João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
ESTA MANHÃ DE SEGUNDA-FEIRA, Fernando Alves na sua inspiradora rubrica da Antena 1 Os Dias que Correm, inspirou-me a fazer do teatro este apontamento. Simplesmente porque ele, na sua mestria de ligar os assuntos do quotidiano, lembrou Manuel da Fonseca com o poema Domingo, dito por Mário Viegas. Não me envergonho de confessar que me emociono cada vez que o oiço a dizer este poema.
Ao longo destes séculos, o Teatro foi superando obstáculos, com desafios derivados da perda de espetadores que novas formas de cultura e lazer trouxeram. Em grandes teatros, pequenos teatros de estúdio, ou em qualquer espaço público, teatro amador ou profissional, importa é que ele esteja vivo.
Já de há muito tempo que mantenho alguma proximidade ao teatro. Ainda adolescente tive a estultice de me julgar capaz de escrever uma peça de teatro, escrita em parte nos bancos da avenida e que seria representada no Teatro Experimental de Benquerenças (TEB), inspirado (só no nome...) no prestigiado Teatro Experimental de Cascais dirigido pelo Carlos Avilez. Passe a qualidade da peça pretensamente neorrealista que hoje com certeza me envergonharia de ler, de qualquer forma, foi uma experiência interessante que preencheu o verão de uma boa parte dos jovens da aldeia. Estávamos nos anos sessenta e foi uma pequena revolução no convívio diário e sem monitorização de adultos, na relação entre raparigas e rapazes, nos ensaios para um espetáculo, que esgotou duas sessões, com o palco montado no adro da igreja. E lembro-me bem que uma parte do sucesso se deveu à ajuda do padre António, santo homem feito entertainer nos intervalos dos quadros,
Estranhamento, inspirado não sei em quê, em 1967 a primeira prenda que ofereci a uma amiga que viria a ser a minha companheira de vida, foi a peça de teatro de Luís de Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar. Longe estava de imaginar que desse mesmo jornalista, escritor e dramaturgo viria a ser colaborador numa editora e no Diário de Lisboa.
Voltando a coisas mais sérias, na Beira Interior, desde que me conheço como membro desta comunidade, tivemos sempre boas e ativas companhias de teatro, desde o albicastrense Váatão, a Associação Cultural ESTE no Fundão, até ao GICC- Teatro das Beiras, há mais de cinquenta anos a fazer teatro na Covilhã e onde ainda há bem pouco tempo assisti a uma bela evocação de Natália Correia, pela atriz Maria Emília Castanheira com cenografia de José Manuel Castanheira, cenógrafo (entre outras artes) albicastrense de prestígio mundial.
Este nosso burgo já albergou várias aventuras teatrais de nomes bem nossos conhecidos, como José Dias Pires, também dramaturgo representado, Lopes Marcelo, Hélder Rodrigues e Fernando Raposo. E com alguns dramaturgos de obra publicada como José Guardado Moreira e o nosso maior, Vicente Sanches, também conhecido enquanto professor do Liceu como Vicente Pardal.
E num apontamento à maneira de pescadinha de rabo na boca, volto ao ponto de partida. Porque Fernando Alves, ao falar de Mário Viegas, me fez recordar a sua inesquecível (para quem esteve presente) representação, na praça de Camões e no antigo Celeiro, de uma das mais conhecidas obras de Vicente Sanches, A Birra do Morto a farsa trágica do morto que se recusa a morrer.