Edição nº 1893 - 30 de abril de 2025

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

ESTE ANO DE 2025 festejaram-se mais que os 51 anos da Revolução dos Cravos, também os 50 anos das primeiras eleições livres e universais da democracia. Sublinho universais porque pela primeira vez em Portugal, todas as mulheres e homens, independentemente da sua condição social e económica, puderam votar. E fizeram desse dia uma festa, uma festa muito grande que teve a participação de 92 por cento dos portugueses na escolha dos deputados que iriam elaborar a Constituição de um país democrático. Fizeram-se filas intermináveis nas assembleias de voto para se fazer do voto a arma do povo.
Após décadas de ditadura, o país vivia um período de intensa mobilização política e social, um fervor político intenso, com a legalização de partidos que nasciam como cogumelos depois da chuva. Na altura eu vivia uma fugaz experiência jornalística no Diário de Lisboa e era um dos colaboradores do suplemento diário que acompanhava as notícias da campanha. Quase diariamente descia a Avenida Almirante Reis (onde os novos partidos ocuparam muitos prédios devolutos), a cobrir as conferências de imprensa de incontáveis organizações políticas da esquerda marxista, maoista e leninista. Ainda com a Revolução de Abril fresca na memória, num período político quente, de instabilidade e ameaças de golpes, a estas primeiras eleições livres julgo não ter concorrido qualquer partido que se assumisse claramente de direita. O CDS proclamava-se do centro, o PSD do Centro Esquerda e a direita saudosista do anterior regime, como o MDLP, vivia na clandestinidade, a atacar sedes do PCP ou a promover atentados. Eram tempos em que o pior insulto que se podia fazer a alguém era de o chamar de fascista, assisti a ferozes discussões nos transportes públicos, você é um fascista, mais fascista é você, enquanto as senhoras alheadas da discussão que já era pão nosso de cada dia, lá seguiam indiferentes, de transístor colado ao ouvido, a viver os dramas da enjeitada, no folhetim radiofónico patrocinado por uma conhecida marca de detergente.
Mas foi bonito vivenciar a participação ativa da população na vida política, a descoberta dos valores da liberdade de um povo que tinha uma das mais altas taxas de analfabetismo da Europa, uns avassaladores 25 a 30 por cento nos maiores de 15 anos (censos de 1970), talvez até de valor superior no nosso Distrito, com uma população predominantemente rural e envelhecida.
Infelizmente, aqui como noutras partes do Mundo, os cidadãos vão dando menos valor ao ato de ir votar, de cumprir com um dos seus deveres de cidadão que é o de escolher com o seu voto quem nos governa. A indiferença, principalmente entre os jovens, pode ter várias causas e culpados, o menor dos quais não será certamente a classe política que muitas vezes parece viver numa bolha, afastados dos cidadãos, de quem se aproxima somente quando necessita do seu voto. Para chamar os jovens à participação cívica, é positiva a iniciativa da realizar a Assembleia Municipal Jovem. Parece-nos que, de futuro, seria útil abreviar os formalismos do funcionamento de uma Assembleia e dar maior ênfase à apresentação e debate de ideias. Que os jovens as têm, isso ficou provado na experiência piloto realizada este ano.
Termino fazendo minhas as palavras do decano do jornalismo, Germano Silva, ditas aos microfones da TSF: “Eu acho que nós, portugueses, devemos ir votar. As pessoas devem votar. Houve quem lutasse, quem sofresse muito no corpo, inclusivamente, os presos políticos, lutaram para que houvesse liberdade e fosse possível votar em liberdade. Agora, as pessoas têm a liberdade de votar em partidos ou votar em branco. É o maior protesto. Mas votar é essencial, dá prova de maturidade da nossa democracia”.

30/04/2025
 

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