João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
ESTAMOS A ESCREVER estas linhas domingo à noite, ainda em ambiente do terramoto político que Portugal sofreu este domingo e com as réplicas que se farão anunciar por estes dias, se não for ainda hoje. Esta é a crónica da vitória anunciada pelas sondagens diárias. Mas também é a crónica da derrota inimaginável de toda uma esquerda, em particular de um dos partidos fundadores da nossa democracia e que, no momento em que escrevo, está em risco de ficar com menos deputados do que o partido da direita radical, que já festeja antecipadamente o lugar de liderança da oposição.
Duas ou três notas sobre o que aconteceu. A primeira é sobre a decisão de Luís Montenegro ter avançado com a moção de confiança, com derrota garantida à partida, e de que resultaram estas eleições. Foi uma decisão de alto risco, mas que resultou em vitória folgada. Segunda nota, é que os casos e casinhos, as questões de ética, os pequenos escândalos, a degradação do nível intelectual e cívico dos deputados eleitos, os insultos e as arruaças na casa da democracia, pouco dizem ao eleitor comum (provavelmente algumas até serão valoradas positivamente) que não acompanha as intermináveis horas de debates e análises políticas de uma miríada de comentadores residentes em cinco canais de notícias, 24 horas em contínuo. Um caso único na Europa ou talvez no Mundo, um País pequeno e pouco mais de nove milhões habitantes, com cinco canais de noticias… um estudo de caso para os especialistas em comunicação.
A terceira nota vai para o PS. O seu líder mostrou nesta campanha uma notória incapacidade de mobilização, arrastando consigo o PS para um desastre em toda a linha, não conseguindo segurar o eleitorado mesmo em Concelhos e Distritos onde era historicamente dominante. Em Castelo Branco, a AD e o PS sempre se foram alternando na liderança do Distrito, a surpresa veio da consolidação da influência do Chega. Acredito que as estruturas regionais do partido fiquem em alerta vermelho, para as consequências deste desastre nas próximas eleições autárquicas. Este partido da direita radical, na linha do que vemos em toda a Europa, foi o grande vencedor das eleições, fortalecendo a sua presença e influência em todo o território nacional. Em particular no sul, ainda não há muito tempo vermelho e rosa, agora pintado de azul. Quem imaginaria isto em distritos como o de Beja ou Setúbal? Portugal, que nesta conturbada Europa era um dos poucos países onde ainda reinava o bipartidarismo, viu agora destruído, talvez definitivamente, este estatuto que significava alguma estabilidade.
O que se deseja agora, é que se criem condições de governabilidade que garantam uma legislatura de quatro anos. E que os partidos derrotados aproveitem estes próximos anos para uma reflexão e façam a escolha de lideranças capazes de criar alternativas democráticas.