João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
“QUEREMOS TER UMA CONSULTA, queremos ter uma cirurgia ou simplesmente ser atendidos numa urgência e o serviço não dá resposta.” Sobre o encerramento das urgências “em serviços especialmente sensíveis como obstetrícia, ginecologia e pediatria”, apontava o “sentimento de insegurança” das famílias “quando sabem que uma mulher grávida ou uma criança pequena, se tiver um problema, não vai ter o atendimento que devia ter ali perto, vai ter de andar 70, 80, 90 ou 100 km para ter aquilo que em condições normais tinha a 5 ou 10 minutos de distância.
É fácil adivinhar quem dizia isto há três anos… Alguns políticos deveriam aprender que os discursos populistas têm, invariavelmente, um efeito de boomerang. Ou sabem, mas acreditam que ninguém mais vai lembrar o que é dito na hora.
Há três anos, o mesmo político criticava o governo de então, lembrando que, no caso dos incêndios, “o risco e perigosidade dependem de algumas ações do governo” e que “a coordenação e meios de combate dependem muito daquilo que são as decisões” do executivo.
Escrevo estas linhas, segunda-feira, enquanto vejo na televisão meio Portugal a arder. A nossa região a ser devastada por um fogo incontrolável, que começou há nove dias e já atravessou a Guarda, a Covilhã, chegou ao Fundão e à parte norte do concelho de Castelo Branco. Sem esquecer Sabugal e Penamacor. Sempre com populações e autarcas aflitos e impotentes perante a violência das chamas, a verem arder o seu território, toda uma vida de trabalho, o património natural e algum arquitetónico, a desfazerem-se em cinzas. E correndo o risco de ser injusto, a perceção (a famosa perceção que serve para tanta coisa) é a de que o governo falhou na coordenação e na tomada de decisões.
São assassinas as imagens nas televisões, com o ecrã divido entre a aflição das populações a verem chegar o fogo às suas casas e a destruir o seu ganha pão e a a insultuosa galhofa que se vivia na festa do Pontal, no Algarve.
E se a gestão da crise pelo primeiro-ministro não foi feliz, ou no mínimo desleixada, o que dizer da ministra da Administração Interna? O que parecia ser uma mais valia no governo, pelo seu prestígio enquanto Provedora da Justiça, revelou-se um autêntico flop. Dificuldades na comunicação, muito pouca empatia e mal preparada para as funções que desempenha. Seria bom para a democracia que, hoje como ontem, momentos de catástrofe como estes incêndios que já consumiram mais de dois por cento do território, de longe a maior taxa da comunidade europeia, não fossem usados como arma política. Mas infelizmente isso não está a acontecer, porque há que alimentar o populismo.