Edição nº 1908 - 20 de agosto de 2025

Lopes Marcelo
VIVA A CHITA

Na década de sessenta do século passado, no âmbito das Festas de Verão da nossa Cidade, de forma própria ou com outras colectividades, o Clube de Castelo Branco passou a organizar o Concurso do Vestido de Chita. No seio da sociedade albicastrense ganhou notoriedade e explendor, tendo-se tornado uma tradição intimamente ligada ao desenvolvimento do comércio da cidade.
O CLUBE organizou durante vários anos as Festas da Cidade. Nestas, pela íntima ligação ao tecido comercial e como agremiação fundada por caixeiros, assumiu grande relevo na realização do Concurso do Vestido de Chita.
Tudo começava com a iniciativa das jovens em se inscreverem, de acordo com o seguinte regulamento profusamente divulgado.
“Regulamento: 1) As concorrentes deverão ter idade igual ou superior a 14 anos; 2) Os vestidos deverão ser confeccionados em chita, (ou tecido semelhante 100% algodão) podendo ser usadas aplicações como efeitos decorativos; 3) Só serão aceites vestidos originais e que nunca tenham sido apresentados em certames idênticos; 4) Cada concorrente só poderá apresentar um vestido; 5) A confecção do vestido será manual, dando-se relevo sendo a própria; 6) A votação do júri é secreta, apenas divulgada perante o público e as concorrentes perfazem o somatório do voto elemento do júri; 7) Em caso de empate em qualquer posição será feita nova votação.”
Depois de confirmada como candidata, cabia à jovem ir junto de um comerciante solicitar a oferta da chita, tornando-se sua representante. Se a jovem não era costureira, tinha de contar com a participação de uma modista. A jovem devia assegurar o patrocínio de empresas para o calçado e para o penteado. A esmerada e artística confecção dos vestidos era feita em segredo, com o maior empenho e brilho já que representava uma aposta profissional muito séria e determinante atendendo ao prestígio que estava em causa.
Aproximando-se o dia do concurso, exigia-se que as concorrentes comparecessem dez dias antes para ensaios diários, tendo em vista a preparação do desfile. A noite do concurso, abrilhantada por afamados artistas chamava muito público, não faltando as falanges de apoio às concorrentes. O júri era composto por representantes do CLUBE, dos comerciantes, das modistas e das jovens anteriormente vencedoras. Depois do desfile no palco do Parque da Cidade, cada elemento do júri dava a sua classificação sem conhecer a votação dos outros colegas, sendo as votações divulgadas perante o público e sendo atribuídos o primeiro, segundo e terceiro lugares, quer para as jovens, quer para as modistas. A concorrente que ficava em primeiro lugar era designada Rainha do Vestido de Chita.
Na fase de preparação do concurso recolhiam-se apoios e patrocínios das casas comerciais, geralmente eletrodomésticos que constituíam a base dos prémios. De facto, havia prémios para as candidatas vencedoras e respectivas modistas, para as cabeleireiras responsáveis pelos penteados, bem como para os fornecedores dos sapatos.
As casas comerciais exibiam nas suas montras os vestidos patrocinados e, com grande orgulho e prestígio, com os vestidos das vencedoras, organizavam montras especiais num ambiente festivo com reflexos comerciais positivos que tornou notável e bem enraizado o concurso.
A sociedade mudou nestas últimas décadas, os processos industriais esmagaram as artes e ofícios, o consumismo acelerou a produção em série, o usar e deitar fora num movimento de desumanização, massificação e perda das identidades locais. Contudo, algo pode ser feito no sentido do resgate das tradições que valorizam o nosso património, as manualidades e as artes e ofícios com assinatura e autenticidade. Vem neste sentido a recente iniciativa da Junta de Freguesia de resgatar a memória e revisitar o Concurso de Vestido de Chita na nossa cidade, o que é de aplaudir vivamente.

20/08/2025
 

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