João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
FOI EM 2019 que a Assembleia da Republica, com os votos do PS, PSD, BE e PAN, aprovou a lei orgânica que criava a Entidade para a Transparência, uma entidade pública portuguesa, independente, a funcionar junto do TC e que tem como objetivo fiscalizar as declarações de rendimentos, património, incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos políticos e altos cargos públicos. Entre as funções, destaco a gestão da plataforma eletrónica onde as declarações podem ser consultadas publicamente, garantindo o acesso dos cidadãos à informação patrimonial dos eleitos reforçando a confiança em quem gere a res publica.
Acontece que nem todos os eleitos parece lidarem bem com a transparência, mesmo jurando que ninguém é mais transparente. Mas nos tempos que correm não são as perceções que contam? E cada vez há mais quem considere ser pouco transparente um primeiro ministro esconder clientes da sua empresa familiar, estritamente familiar. Pouco, muito pouco transparente, pedir (legitimamente) que a Entidade para a Transparência impeça a comunicação social de fazer a consulta de dados sobre o seu património imobiliário. Sobre o assunto, alegando problemas de segurança de familiares, impediu o acesso público aos números da matriz. Enfim, dir-se-ia no mínimo que é uma transparência um tanto opaca.
ERA UTILIZADOR frequente do Elevador da Glória. Escrevo a frase no tempo passado, espero que possa voltar a escrever o mesmo no tempo presente e futuro. Porque faz parte da vida dos lisboetas que trabalham naquela zona de Lisboa, porque é um dos pontos ícones da cidade que cada vez atrai mais turistas. Como o Elevador de Santa Justa, com filas para acesso de vários metros, a entrar pela rua do Carmo adentro, para uma viagem de menos de um minuto, também nos dois extremos da Calçada da Glória as filas de turistas eram a norma. Até ao dia da tragédia, uma das maiores que afetou Lisboa em dezenas de anos. Agora fazem-se debates à volta de quem terá sido o culpado.
Mais uma vez, descobrimo-nos todos como especialistas em funiculares. Já se sabe o que aconteceu, e já se vai sabendo o que poderia ter evitado que acontecesse. Passo ao lado dos comentadores liberais de direita que defendem a privatização dos serviços públicos como a Carris como solução para evitar mais acidentes. Prefiro a análise dos que entendem ter sido a exteriorização dos serviços de manutenção, que incrementou a causa para o acidente. Antes dessa opção tomada durante uma gestão autarca socialista, a Carris dispunha de 24 homens que durante 24 horas tratavam das máquinas que conheciam como as suas mãos, num saber acumulado de anos, que iam passando para as novas gerações de trabalhadores.
Tudo isto e a falta de investimento na modernização de um sistema de segurança com mais de cem anos, pode fazer toda a diferença. Agora falta dar um nome ao culpado. E esperar pelas eleições autárquicas.