João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
SEM GRANDE SURPRESA, a VASP, distribuidora de publicações, que enfrenta dificuldades económicas, anunciou que irá reorganizar a sua rota de distribuição diária de jornais, o que implica a cessação da garantia de distribuição diária em oito distritos do interior de Portugal, a partir de 2 de janeiro de 2026. Serão todos os distritos do interior, de baixa densidade populacional, poucos leitores e por isso de fraca rentabilidade económica para a distribuidora. Os distritos de Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Viseu, Vila Real e Bragança, ficarão assim ainda mais ostracizados. Há quem considere que este anúncio será apenas uma forma de pressão sobre o governo, que em tempos anunciou uma série de medidas de apoio à imprensa nacional e regional, medidas que na sua maioria ainda não saíram do papel, aliás como aconteceu também com os anteriores governos, nomeadamente quando não saíram de promessas os apoios no período da pandemia, que resultou no fecho de muitos jornais regionais e na estrondosa quebra de vendas em banca de todos os jornais, sem exceção, quebra que já era anunciada há muito tempo, que a pandemia viria a acentuar e nunca viria a ser recuperada.
João Miguel Tavares traça no Público o retrato desta crise: o jornal onde escreve fica agora pelos 10 mil exemplares quando em 2005 vendia 50 mil exemplares; o Diário de Noticias que passou de 100 mil para menos de mil (!!!); Expresso de 140 mil para 30 mil; o mesmo aconteceu com o Correio da Manhã, já longe dos tempos em que vendia 120 mil exemplares. As razões para esta crise na imprensa escrita já são muito conhecidas e não vale a pena voltar a explanar aqui. Estes números, a serem corretos, servem apenas para sugerir uma explicação para a decisão da VASP, porque parte da receita vem dos 35% do valor de venda dos jornais e revistas.
Esta diminuição de vendas, é acompanhada pelo cada vez menor número de quiosques de venda de jornais. E isso acontece não só no interior como também nos centros urbanos das grandes cidades. Em Lisboa, já não é nada fácil comprar um jornal no Chiado, onde a cultura fervilhava e abundavam as tertúlias com os jornais do dia abertos nos tampos das mesas do café.
Como seria de esperar, as entidades regionais como a CIMCB, veem tudo isto com muita preocupação e esperam que não passe de uma forma de pressão sobre o governo, a quem se exige a solução que permita aos habitantes destas regiões de baixa intensidade continuarem a ter acesso à informação em papel, também uma forma de defender o direito constitucional de todos terem acesso à informação mediada e credível, cada vez mais importante na defesa da democracia.
Assim se vão perder ainda mais os hábitos de leitura. Como dizia uma bibliotecária, de uma biblioteca camarária, depois do fecho do último quiosque da vila agora também posto de venda de jornais: agora, fica o silêncio, silêncios… de vozes que se apagam.