Celeste Capelo
A Camisola Amarela

Não, não vou falar de ciclismo, nem tão pouco vou dissertar sobre a cor ou a peça de vestuário. O estilista e o designer saberiam falar desse assunto muito melhor do que eu e, até enquadrá-lo nas tendências da moda.
Eu apenas consigo e porque a minha cultura social foi esta, sei que:
- Se estou na praia uso um determinado vestuário; se vou a um casamento uso outra indumentária; se estou numa cerimónia oficial visto-me de acordo com essa circunstância; se acompanho um funeral não usarei certamente nem a cor vermelha nem o amarelo.
Durante muitos anos trabalhei com cegos e, para fazer esse trabalho, tive antes de me preparar e aprender com outros cegos.
Assim, ao ensinarmos as cores faziam-se associações. Por exemplo:
- O vermelho era o sangue ou o fogo; o verde era o mar; o azul era o céu; o branco era a paz, etc. Curiosamente para o amarelo não havia uma sensação ou uma situação definida, o que aliás não é muito importante para um cego a não ser para as mulheres cegas, que também se preocupam em combinar as cores do seu vestuário.
Dizia-se até que, “se não houvesse pessoas de mau gosto não se usava o amarelo”. Não será bem assim, mas temos de concordar que não é uma cor sóbria. É uma cor alegre, usada em trajes típicos, em locais que exigem chamadas de atenção, sinais de perigo (como no trânsito), por exemplo. Todo este preâmbulo para falar da camisola amarela. Mas qual camisola amarela?
Vou ainda, e para lá chegar, falar de um evento cultural que aconteceu durante os meses de Verão, acabando agora no mês de Setembro. Falo das sessões de cinema que tiveram lugar todas as quintas feiras no museu de Francisco Tavares Proença Jr.. Pareceu-me bem.
Recordou a alguns, que participaram nessas sessões, o cinema que então se fazia no parque; atenuou as noites quentes que este ano se fizeram sentir na nossa cidade e, porque cinema é cultura achei bem enquadrada esta iniciativa. Já porque todos os filmes, e diga-se de grande qualidade, tinham cenas passadas em museus, porque diversificou a oferta cultural, pareceu-me bem.
Pois foi aí, e embora fosse noite, o amarelo das t-shirts que os funcionários do Museu usavam chamaram-me a atenção. Pensei: é Verão vêm mais à vontade. Não, não era. Os funcionários do Museu usam agora esta farda.
Não gosto. Como atrás digo não é uma cor sóbria, não se coaduna nem com a dignidade do Museu, nem com a sua história, nem com o seu centenário, nem tem a marca identitária do Museu. Devo dizer que a farda do Museu Cargaleiro é muito mais bonita, elegante e perfeitamente enquadrada no espaço onde circula.
Mas como digo no início não sou estilista e, talvez seja esta a tendência! …
A estação do ano vai mudar, o que virá a seguir… porque o rigor do inverno não suportará certamente uma t-shirt amarela.
Enquanto cidadã manifesto a minha opinião, enquanto presidente da Sociedade dos Amigos do Museu “não sou amiga desta farda”.