24 julho 2013

João Belém
Preocupação saudável versus Superproteção

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A preocupação com a segurança dos filhos é de ordem biológica: sem ela, nenhuma espécie animal conseguiria reproduzir-se e perpetuar-se.
Aparentemente, um filho sob a vigilância incondicional dos pais está mais seguro. Mas pode ser um risco atender a todos os pedidos da criança ou do jovem. Os pais que adotam para si e para os seus filhos esse tipo de estratégia ignoram uma peça-chave do desenvolvimento humano: A autonomia - a capacidade e sensação poderosa de fazer escolhas, de aceitar os seus próprios limites e reconhecer que, não raro, as escolhas podem estar erradas.
O psiquiatra americano Michael Jellinek, professor de Harvard e chefe da psiquiatria infantil do Hospital Geral de Massachusetts, escreveu que, do momento em que um bebé nasce até à hora em que entra na faculdade ou sai de casa, a questão central de sua existência é conquistar independência. Tirar isso de um filho pode ser uma viagem sem volta.
Atualmente, a escola é o único espaço em que boa parte das crianças e adolescentes tem, de facto, de assumir responsabilidades. Ao passarem pelos portões escolares, deixam o posto de relevo que ocupam na sua família para se tornarem um entre tantos outros alunos. É um dos grandes pesadelos dos pais superprotetores
Como efeito colateral da superproteção, os especialistas em educação infantil começam a notar um aumento no número de crianças ansiosas e inseguras. Não é difícil identifica-las na sala de aula: é a que pede atenção e aprovação para cada tarefa que realiza, consulta os professores com frequência exagerada, fora da sala tem medo de se magoar no convívio com os outros alunos, pede ajuda a todo momento. Tamanha dependência está na raiz de uma baixa autoestima.   
Por outro lado a eventual falta de obrigações dentro de casa tem criado uma geração pouco preocupada com o próximo. E o pior: alguns pais estão relutantes como nunca em pedir ajuda doméstica aos filhos. De acordo com muitos psicólogos, não há nada de errado em distribuir tarefas: é bom para a autodisciplina e para ajudar a construir a autoconfiança.
“Uma criança não é um projeto, um troféu ou um pedaço de argila que se pode moldar como uma obra de arte. Só vai prosperar como pessoa se tiver permissão para ser o protagonista de sua própria vida”, disse o escocês Carl Honoré, autor do livro Sob Pressão – Criança Nenhuma Merece Superpais
Eliminar do desenvolvimento infantil todo o desconforto, as deceções e até mesmo a brincadeira espontânea – e ainda por cima pressionar as crianças com a exigência de sucesso total – é um erro de rumo gravíssimo. Sem enfrentarem desafios próprios nem se confrontarem com os seus limites, as crianças tornam-se adultos incapazes de superar as vicissitudes. As consequências da infância e adolescência superprotegidas já são mensuráveis: os jovens atualmente levam mais tempo para sair de casa, começar a trabalhar e formar uma família. Quando chegam ao mercado profissional, muitas vezes não conseguem lidar com as exigências reais. Frequentemente sentem-se injustiçados e incompreendidos frustrando-se com facilidade.
Em resumo, se quisermos filhos com possibilidade de serem felizes e realizados (nunca há garantias), devemos proporcionar-lhes a liberdade possível em cada etapa de sua vida. Reflitamos sobre o que disse o escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850): “Chega um momento na vida íntima das famílias no qual os filhos se tornam, voluntária ou involuntariamente, juízes de seus pais”. Para ter um julgamento razoavelmente justo, não seja negligente – mas também não seja superprotetor.

 

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