José Lagiosa - Desassossego
Esperança...
Em 1976 vivíamos com sonhos de um País mais justo, mais realizado, mais solidário. Durante anos foi possível, com sucessivos governos, alimentar esses sonhos, essas ambições ideológicas. Mário Soares foi um desses sonhadores. Sonhou um País europeu, por isso pediu a adesão à então CEE, idealizou uma Europa federada, solidária e fraterna e tentou dentro das possibilidades de Portugal, à época, traduzir isso nas suas políticas enquanto governante. Depois fomos aceites nessa Europa dos direitos sociais, com a esperança que era possível atingir os patamares dos outros países que há muito por lá andavam. Puro engano. Fundamentalmente por duas razões principais: primeiro porque, esses outros, há muito militavam no campeonato do desenvolvimento e nós, a par dos espanhóis, só então nos atrevíamos a apanhar o comboio, a segunda porque entrámos no grupo na altura em que a Europa começou a deixar de ser aquela velha senhora que defendia, ainda que muitas vezes só teoricamente, os seus. Entretanto a velha Europa esqueceu o seu passado, abriu portas a tudo e a todos, numa ânsia de globalização que tem tido um efeito contrário. A unificação, que a Europa pagou e continua a pagar com sacrifícios de muitos de nós, de uma Alemanha que se tem vindo a considerar superior a muitos dos outros europeus e que não é um filme, infelizmente, novo, foi o princípio do descalabro. Com o enfraquecimento da intervenção europeia da França, com a teimosia dos ingleses em estarem com um pé dentro e outro fora da Europa, com o alargamento descontrolado aos países de leste, com os restantes países europeus cada vez mais fracos e com o desaparecimento de um conjunto de grandes estadistas, as políticas egoístas e pouco solidárias da Alemanha e o enfraquecimento efetivo, das capacidades da classe política da UE, faltava uma faísca para acontecer o pior. Essa faísca foi a crise financeira americana que se alastrou por este velho e antigo continente que tem vindo ano após ano a demonstrar ser incapaz de implementar no dia a dia todos os princípios de justiça social, solidariedade e fraternidade que levaram os pioneiros da União a sonhar que um dia seria possível isso acontecer e que antes desta demanda ideológica do neoliberalismo, tudo indicava um dia ser possível. Resta-nos agora, a esperança. A esperança que os europeus abram os olhos e se preparem para usar o voto nas próximas eleições Europeias dando um sinal na direção certa. O pior é que muitos já desacreditaram e apostam em sentido contrário. Para esses, provavelmente, já não há esperança.