Valter Lemos
CRATO, PASSOS E O PAPA FRANCISCO O MINISTRO CRATO E A FALTA DA EDUCAÇÃO
O Conselho Coordenador dos Politécnicos pediu a demissão do ministro da Educação. Com toda a razão. O ministro demonstrou uma enorme irresponsabilidade e falta de respeito com as suas declarações sobre as ESES. Primeiro porque assentam numa falsidade, como a Agência Nacional de Avaliação do Ensino Superior já mostrou, segundo porque revelam um preconceito que todos sabíamos que existia, mas, que, apesar de tudo, o ministro seria capaz de disfarçar no exercício do seu cargo e terceiro porque são acarretam consequências graves e injustas para milhares de professores e alunos. Para se ter a dimensão da falsidade das afirmações de Nuno Crato basta recordar que os alunos portugueses foram dos que mais melhoraram nos testes internacionais (PISA) os resultados em Matemática, Ciências e Leitura, entre 2000 e 2012. E esses alunos foram ensinados na maior parte do seu percurso escolar por professores formados nas Escolas Superiores de Educação…
Já agora refira-se que o ministro não gostou da melhoria dos resultados dos alunos portugueses e as suas declarações, sobre os mesmos, são breves, mas absurdamente ridículas. Primeiro andou todos esses anos a dizer que os alunos aprendiam menos e a culpar os governos, as políticas educativas e os professores (e assim chegou a ministro). Quando os resultados mostraram que os alunos aprendiam mais, a explicação que arranjou foi que tal se devia a um livro que ele tinha escrito e que, ao contrário do que ele havia dito durante anos, tinha feito com que os governos tivessem governado melhor e os professores ensinado mais! Se o ridículo matasse já havia mais uma vaga no governo.
Mas, o ministro Crato lá vai, infelizmente, mostrando a ignorância que tem sobre o sistema educativo que tutela e revelando que as suas políticas se guiam somente por alguns preconceitos, com resultados desastrosos para a educação portuguesa.
PASSOS COELHO E O PAPA FRANCISCO
2013 foi mais um “annus horribilis” para a maioria dos portugueses. A classe média ficou menos média. Muitos remediados ficaram sem remedeio. Os pobres ficaram mais pobres. Quase três anos após o chumbo do PEC4 o país está muito pior. Há mais desempregados, os idosos têm menos apoio, os trabalhadores públicos e privados têm menos rendimento, há mais jovens a abandonar a escola, há mais pobres e mais excluídos. Acresce ainda que as desigualdades aumentaram e são maiores que nunca.
Três anos depois, alguns continuam desesperadamente a tentar culpar o governo anterior, outros querem ver melhorias numa conjuntural e ligeira subida das exportações (à custa da venda de combustíveis) e outros tentam convencer-se que não há outro remédio. Mas o que verdadeiramente merece preocupação são aqueles que acreditam mesmo no que está a ser feito, neste “choque de empobrecimento” (como o primeiro-ministro Passos Coelho conforme pôde amplamente explicar na sua mensagem de Natal), prometendo uma redenção que, cada vez mais, parece estar já fora desta vida para a maioria dos portugueses.
A esses, muitos dos quais se anunciam como católicos, bem como a todos os que defendem esta política que domina o país e à direita política em geral, valerá a pena recordar, nesta altura do ano, as palavras do papa Francisco na sua exortação apostólica “Evangelii Gaudium”:
“Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão... Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspetivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora…
Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e sobre as nossas sociedades…
Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controlo dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respetivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra…
Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, provocará a explosão”.