19 fevereiro

Lopes Marcelo
Novos museus?

Estudar e interpretar, preservar e divulgar o nosso património cultural e produtivo, deve ser a principal prioridade da missão das Instituições públicas, com especial responsabilidade para as Autarquias Locais. De facto, é nesta vertente fundamental que está a base dos dois vectores principais da dimensão colectiva da nossa sociedade: o sentimento de pertença e a auto-estima.
Através da vibração do sentimento de pertença se define a Identidade cultural de pessoas e grupos (a família, a escola, a associação de classe ou de profissão, a colectividade cultural, a igreja, o clube, o partido...).Na pauta da auto-estima articulam-se aspectos psicológicos e sociais que se ligam com o sentido de futuro e a esperança que as pessoas retiram das perspectivas, quer reais e concretas, quer futuras, da evolução social. A valorização das nossas bandeiras culturais tem suporte no surgimento de mais equipamentos culturais da nossa cidade. Contudo, o mais importante não é a quantidade nem a qualidade dos edifícios. O mais importante é a qualidade da abordagem, a clareza dos conceitos e o rigor pedagógico, científico e histórico dos métodos de trabalho. Outra vertente muito importante tem a ver com a maior ou menor articulação, bom relacionamento e complementaridade entre os equipamentos culturais que já existem.
Perante a inclinação actual e até uma certa ligeireza com que se encara a criação de novos Museus, devemos interrogar-nos, novos Museus? Porquê? Para quê? Para quem?
Tem que se atender a que um processo de musealização pressupõe a existência de objectos ou valores patrimonializados. Um bem patrimonial constitui-se no momento em que sobre ele lançamos o nosso olhar interrogativo, em que perguntamos o nome do objecto, de que matéria-prima é constituido, quando e onde foi feito, qual o seu autor, de que tema e ambiente se trata, qual a sua função e em que contexto social, político, económico e cultural foi produzido e utilizado, que relação manteve com os actores e conjunturas históricas?
O processo de musealização legitíma a salvaguarda das referências de memórias colectivas e utiliza uma cadeia de técnicas: pesquisas prévias, selecção de objectos, documentação enquadradora, gestão, investigação, incorporação, exposição, divulgação, educação e partilha.
A decisão de se criar um Museu não pode ser um ponto de partida, obstinadamente uma vontade política, mas antes uma meta de chegada através de um processo de pesquiza e de investigação com vertentes científicas, históricas, socio-económicas e culturais, que exigem uma metodologia participativa e discussão aberta. Para além dos equipamentos e edíficios é imperioso aprofundar o diálogo e a articulação entre os museus e centros de interpretação já existentes e alargar a partilha do usufruto cultural a toda a sociedade.

19/02/2014
 

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