2 abril 2014

Valter Lemos
O CRESCIMENTO DA POBREZA EM PORTUGAL

Na semana passada o INE divulgou os dados sobre a evolução da pobreza em Portugal. Ficámos a saber que cerca de 2 milhões (18,7%) de portugueses estão abaixo do limiar da pobreza. Ficámos também a saber que este é o valor mais elevado desde 2005. Ficámos ainda a saber que os mais atingidos pela pobreza são os menores de 18 anos, os casais com filhos a cargo e os desempregados.
A gravidade desta situação ainda se acentua quando olhamos os dados com um pouco mais de atenção. O risco de pobreza é um valor relativo pois depende do rendimento médio dos portugueses. Ora o rendimento médio tem vindo a cair nos últimos três anos. Assim facilmente se verifica que se o rendimento médio fosse o de 2009 a taxa de risco de pobreza atual seria de 24,7%, como se pode ver no gráfico.
Estes dados confirmam bem que a governação dos últimos três anos tem sido uma verdadeira “máquina de fazer pobres” tendo criado no país, nesse período, mais umas largas centenas de milhares de pobres. E esta pobreza é ainda mais severa do que anteriormente, como mostra também o aumento do índice de intensidade da pobreza que aumentou de 24,1 para 27,3 e do indicador de pobreza material severa que subiu de 8,6% para 10,9%.
Mas, se é verdade que há mais pessoas cada vez mais pobres, também é verdade que aumentou a desigualdade entre os mais pobres e os mais ricos. Quando olhamos para a diferença de rendimentos entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres em Portugal, verificamos que subiu de 9,4 em 2010 para 10,7 em 2012 regressando a níveis idênticos a 2006.
Não é só nas áreas da educação, ciência, segurança social, energia, administração pública, etc, mas, também na área do combate à pobreza e às desigualdades que verificamos que este governo tem vindo a destruir o vasto e árduo trabalho que tinha sido realizado pelos governos de Sócrates. Temos hoje um país mais desigual, mais pobre e por isso muito mais injusto.
Por isso custa perceber aqueles que, para além do governo, têm sido cúmplices desta situação. Os Camilos Lourenços, os Gomes Ferreiras e outros que tais que, todos os dias vão tentando estupidificar os portugueses dizendo-lhes que este é o melhor caminho e que até devem ficar contentes e agradecer por estarem cada vez mais pobres num país onde, apesar desse empobrecimento geral, alguns poucos ficam mais ricos.
O aumento da pobreza e das desigualdades económicas e sociais nunca, em caso algum, podem ser aceites como algo de positivo, nem sequer ser aceites como uma espécie de efeito colateral de uma política pretensamente positiva. Porque, pura e simplesmente, nenhuma política pode ser positiva para uma sociedade se os seus efeitos sobre as pessoas são destruidores das suas condições de sobrevivência e fazem crescer a desigualdade e a injustiça.
E o que é profundamente lamentável é que todos esses que vêm as suas condições de vida degradar-se, os que não conseguem ganhar o sustento da família, os que engrossam estas estatísticas da iniquidade social, não tenham sequer uma palavra de quem dirige o país. Do governo já não esperaríamos, dada a inqualificável insensibilidade social que Passos Coelho e Paulo Portas e os seus ministros têm demonstrado. Mas, mais uma vez, Cavaco Silva ficou mudo e quedo perante estes pesados sinais de agravamento da falta de coesão social e de sofrimento de milhões de portugueses. Perante tal situação não podemos deixar de ser assaltados por uma questão: para que serve afinal este presidente da República? Porque discursou aos portugueses em 2011 dizendo-lhes que havia limites para os sacrifícios? Ou afinal não estava a falar para estes portugueses?

02/04/2014
 

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