5 de agosto 2015

EM ANGOLA E MOÇAMBIQUE
António Pires faz história no ciclismo

António Pires Ciclista 07António Pires nasceu em Benquerenças, Concelho de Castelo Branco, a 8 de setembro de 1941, mas ainda jovem rumou para Angola, onde construiu um palmarés invejável no ciclismo.
Tudo começou quando tinha 13 anos e partiu com a mãe para a ex-colónia portuguesa, depois de terem recebido uma carta de chamada do pai.
Naquele país africano teve o seu primeiro emprego, a trabalhar num comércio, e já nessa altura, como afirma à Gazeta, gostava de ciclismo. Por isso, sem surpresas, aos 16 anos abraçou a modalidade, integrando as fileiras do Sport Luanda e Benfica, ao mesmo tempo que continuava a sua vida profissional como fiscal dos edifícios nacionais, nas Obras Públicas, em Luanda.
No ciclismo passou por todos os escalões. Depois de fazer o campeonato de iniciados, passou a júnior, escalão no qual se sagrou campeão. A progressão continuou e passou para o escalão de independente (sénior), até chegar ao topo, ou seja, a profissional.
É com um brilho nos olhos que fala nesses tempos e recorda, por exemplo, que “Venceslau Fernandes correu comigo durante três anos”.
Mas este não foi o único ciclista conhecido que teve como colega de equipa, referindo-se, entre outros, a Sérgio Passos, do Tavira; Joaquim Santiago, do Sangalhos; Casimiro Cabrito, do Louletano; e Antero e Dias, também do Sangalhos.
Muitos deles estavam em Angola a cumprir o serviço militar, mas mesmo assim não deixaram de lado a paixão do ciclismo, que levavam da metrópole, e todos cumpriram provas com António Pires, que realça que “tínhamos uma equipa muito boa”.
Com apenas 22 anos, António Pires já tinha no seu palmarés oito títulos, dos quais três de fundo, dois de velocidade e três por equipas. Títulos a que juntou ainda outros, bem como a vitória em muitas provas e etapas.
No que se refere a provas recorda, por exemplo, o Grande Prémio Nocal, que venceu uma vez e noutras cinco ficou em segundo lugar.

Vitória na Volta
ao Sul do Save
Mas, se há vitória que teve um sabor muito especial, foi a do IV Volta ao Sul do Save, em Moçambique, em 1964, integrado na Seleção de Luanda.
Tinha então 24 anos e recorda que foi uma prova “muito dura, com cerca de três mil quilómetros”, não esquecendo que no primeiro dia “tinha 68,5 quilos e terminei com 60”.
Realça também que foi uma prova ganha com um esforço enorme, ao afirmar que “depois de conquistar a camisola amarela, no contrarrelógio, andei oito dias com ela, até cortar a meta final, em Lourenço Marques, com uma vantagem de apenas nove segundos sobre o segundo classificado, José Vargues, do Ferroviário de Lourenço Marques, enquanto Bráulio dos Santos, do Sporting Laurentino, ficou no terceiro lugar”.
Dessa prova recorda ainda que recebeu das mãos do então Presidente da República, Américo Tomás, que estava a realizar uma visita oficial a Moçambique, a taça da vitória.
Vitória que António Pires afirma que foi realmente importante, ao destacar que “eu e o Alves Barbosa fomos os únicos portugueses a ganhar essa prova”.
Como resultado dos êxitos alcançados António Pires recebeu um convite para vir correr para o Sport Lisboa e Benfica, altura em que “o Alves Barbosa me dava 50 contos de luvas, para eu vir”.
Mas tal acabou por não acontecer devido a vários fatores. Por um lado, “o diretor da Sport Luanda e Benfica não deixou”, por outro, “eu ainda não estava no quadro” e além disso “também estava para casar”.
Agora, passados muitos anos “lamento não ter vindo para o Sport Lisboa e Benfica”, não escondendo que “podia ter tido uma grande carreira”.
Tudo porque, afirma “tinha um bom sprint, era bom na velocidade e também era um bom trepador”, rematando que “o meu forte era a subir, mas era um ciclista completo”.
Apesar de não ter vindo para o Sport Lisboa e Benfica, em 1969, como atleta do Sport Luanda e Benfica, ainda se deslocou a Portugal, para participar no Grande Prémio Robbialac, no qual “ganhamos uma etapa”.

Paixão pelo ciclismo
continua viva
Após o 25 de Abril de 1974, mais precisamente em 1975, António Pires regressou a Portugal e a Castelo Branco, onde foi fiscal da Junta Autónoma de Estradas (JAE), até se reformar.
Em Portugal não voltou a participar em provas de ciclismo, mas nunca perdeu a paixão por esta modalidade.
Garante que “não perco uma prova na televisão” e sempre que a Volta a Portugal em Bicicleta passa na cidade “não falto”, até porque essa é sempre a oportunidade de “ver antigos colegas, amigos, que, agora, integram a equipa técnica de algumas das formações que disputam a prova”.
Assim, é garantido que sexta-feira, quando a oitava etapa da 77ª Volta a Portugal em Bicicleta terminar na Avenida Nuno Álvares, António Pires será um dos espectadores presentes, reforçando que “espero ver a malta conhecida que agora está na parte técnica das equipas”.
António Pires avança ainda que em relação ao ciclismo “fico contente só de ver” e realça que “dou valor a qualquer ciclista”, até porque o ciclismo acaba por ser uma modalidade de risco, “onde uma pessoa pode morrer numa descida, pois é muito arriscado, à velocidade a que são feitas”, sem esquecer o esforço necessário para percorrer as etapas quilómetro após quilómetro e as quedas, “principalmente quando se vai no pelotão, porque cada um tem o seu espaço e ao mínimo percalço não é possível fugir para nenhum lado”.


António Tavares

04/08/2015
 

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