13 de julho de 2016

Antonieta Garcia
A PAIXÃO DE SCHÄUBLE E APANIGUADOS, OU A ESPADA DE DÂMOCLES

Conta-se que, no século IV A. C., em Siracusa, na corte de Dionísio I, vivia Dâmocles, de sua graça, muito dado a louvaminhas. Adorava o poder, a autoridade. Considerava, por isso, Dionísio I um glorioso.
Um dia, os desejos, gostos e apreciações de Dâmocles chegaram aos ouvidos do governante, que lhe oferece o seu lugar, durante 24 horas. Podia, então, experimentar o prazer de mandar. Nem esqueceu de, à noitinha, mandar servir um banquete requintado. Dâmocles adorou. Sentiu-se um imperador. Comeu lindamente, bebeu do melhor, divertiu-se, fruiu o deleite completo.
No fim da refeição, porém, levantou os olhos e viu uma espada afiada sobre a sua cabeça; estava suspensa apenas por um fiozinho frágil. O interesse pela gastronomia, pelas bailarinas… desapareceu num ápice. Questionou-se:
- É isto ser bem-aventurado?
Celebrizou-se, assim, a dita espada de Dâmocles uma referência à insegurança do poder que qualquer acaso ou sentimento de cólera pode eclipsar. Valerá a pena correr os riscos dos cargos de mando? Fernando Pessoa sabia a resposta e ensinava: “…se a alma não for pequena…”
Voltando à perversa espada que a atuação do senhor ministro das finanças alemão e de outros membros da UE, vozes do dono, trouxeram à ribalta, pergunta-se: que é isso de ameaçar continuamente com sanções? Sentem-se bem a adiar a tomada de decisões, a esquecer incumprimentos de países de maior saúde económica e colocar a espada de Dâmocles sobre a cabeça de outros? Ainda não perceberam que o uso da velha e mítica espada pode arruinar a U.E. tal qual a maioria – quero ser otimista – a sonhou? Nem todos tiveram os mesmos sonhos, está bem de ver. Mas a arrogância e a prepotência são tão destruidoras!
Senhor Schäuble e apaniguados: tratem do fígado! Bem sabem que não podem rebobinar ou fazer o delete daquilo que dizem. Não se entende a ira que comanda as palavras que proferem. Às vezes, a raiar o insulto, os ímpetos verbais de Vexas assemelham-se a carros de assalto e evocam velhas raivas a povos que não coadunem o perfil de grandeza à forma como a entendem. Grandes serão todos, embora uns privilegiem a barbárie e outros nem por isso.
Presume-se que os pobrezinhos irritam, e que a luta é provar por a mais b que fazem o que entendem e dizem o que apetece, porque mandam. Talvez não tanto quanto se adivinha, ser o seu desejo; por isso, vão deixando palavras migalhas de um pensamento doente, envolto em colesterol e muito fel. Em Português vernáculo, diríamos, que é enorme o ferrete à gente lusa; ficam verdes de ódio, quando o país não se mostra atento, venerador e obrigado. E desabafam, fazem catarse… arrasam o fígado. Criam inimigos. Despertam energias negativas. Não riem. Não sorriem. Há um esgar tipo fecho-éclair, quando dão corda à cólera que os assassina devagarinho.
Por exemplo, o senhor ministro das finanças alemão já reparou que é preciso mandar um funcionário deitar água na fervura, cada vez que fala? Cumpre-lhe amaciar as palavras e, não pedindo desculpa, enquanto voz de seu chefe e senhor, explica o inexplicável, açucara informações, sem derramar o ácido clorídrico que as gerou; entretanto as relações europeias vão-se ulcerando…
Em Portugal, é difícil perceber o castigo que pretendem aplicar; bem sabemos que Espanha ainda não tem Governo e o clima de pressão sobre os portugueses pode evitar devaneios… Não convém nada, na Ibéria, outra solução governativa semelhante à que as últimas eleições desenharam em Portugal… Já a espada suspensa sobre a cabeça, durante muito tempo, ou se torna hábito, ou faz ruir a esperança na tal Europa de Jacques Delors. Entretanto, os mercados agem e aumentam os juros e travam investimento e…
Senhor Schäuble e apaniguados: não será assim que endireitam as contas. Não queiram manter a subserviência custe o que custar! O tempo de desejo igual a execução já foi e a democracia que se quer vivinha da costa não se vence por dá cá aquela palha… Certo é que o Senhor Schäuble e apaniguados, tão enfadados e fartos, têm ostentado nas discursatas com que brindam os países mais delicados, entradas de leão e saídas de sendeiro. Todavia, indispõem, magoam, irritam.
Que tal, para curar o mau feitio, e tratarem o fígado tirarem umas férias, em Portugal? O sol, o mar, a gastronomia, as plantas aromáticas medicinais para os nervos e a simpatia da maioria dos habitantes… até eram capazes de introduzir reformas nos costumes despóticos e de severidade em que pensam sistematicamente.
Já agora, continuando na mesma onda, permitam outro alvitre, no dia seguinte ao jogo Portugal-França: Senhor Schäuble a França eliminou a Alemanha. No Euro. Bem sei que jogos são jogos, o futebol vale o que vale; mas quando um povo, quando uns povos se dão conta que há espadas a mais sobre as cabeças, e que a xenofobia ou algo que se lhe assemelha, se instala, puxam de galões azougados, sejam eles quais forem, e é vê-los levantar-se com ganas de heróis… alcançando vitórias de que até os deuses duvidam. Portugal é campeão europeu do desporto rei!

13/07/2016
 

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