3 de agosto de 2016

Luís Pereira Garra
Redução do valor das portagens, uma redução pífia e um passito de bebé

Com o secretismo que invadiu alguns ministros (infraestruturas e saúde, pelo menos) do actual governo do PS tivemos finalmente a descoberta do “ovo de Colombo” com o anúncio do desconto de 15% nas portagens de algumas autoestradas, incluindo a A23. É óbvio que não vou cair no ridículo de dizer que o desconto de 15% é pior que nada, mas também não me peçam para ser hipócrita e dizer que estamos perante uma grande vitória. Sou português mas não pertenço à maioria dos que se contentam com quase nada.
E, porque não me resigno, extraio três conclusões deste processo:
Ponto um - O governo não teve coragem para enfrentar os interesses instalados e acabar com um contrato feito pelo defunto governo do PSD/CDS-PP com as PPP (SCUTVias) que é ruinoso para o país, para a região, para as empresas, para o turismo e para as populações e optou por uma redução pífia, um passito de bebé. Além disso o ministro teve, do ponto de vista ético e institucional, falhas muito graves: Não reuniu com os representantes dos empresários/sindicatos e comissões de utentes; e anunciou as reduções na comunicação social no exacto dia em que vinha à Covilhã para esse fim. Foi mau, muito mau e o Presidente da Câmara sobre isso nada disse e também foi mau, muito mau.
Ponto dois – Os deputados do PS, PCP, BE, PEV e PAN, que aprovaram uma resolução para a redução dos valores praticados, devem penitenciara-se por terem aprovado uma resolução genérica sem uma calendarização e uma quantificação da redução e sem um compromisso sério de abolição das portagens. Em política a falta de firmeza e de princípios paga-se caro.
Ponto três - A Câmara Municipal da Covilhã andou mal porque se prestou a um papel de submissão ao ministro, porque lançou às urtigas todas as intervenções públicas do seu presidente e todas as moções aprovadas na Câmara e na CIM Beiras e Serra de Estrela e porque convidou para intervir como “animador de festa” o representante de uma associação patronal sectorial (eu diria que só representa um grupo económico) a quem nunca se ouviu uma palavra e a quem não se viu uma única acção contra as portagens e que no plano laboral se caracteriza por uma postura de retrocesso e que por isso é conhecida pelo “ganha muito e paga pouco”. Só a vontade de ter alguém que não levantasse ondas e até tecesse loas a uma medida pífia pode justificar que não tivesse convidado o presidente do NERCAB ou da Associação de Empresários pela Subsistência do Interior que são associações representativas e que têm tido um papel destacado na luta contra as portagens.
Sejamos sérios e honestos! Uma redução de 15% não vai dinamizar a economia, não vai tirar o interior do atraso e não vai melhorar o poder de compra dos que cá vivem e resistem. Infelizmente esta redução vem confirmar a distância que vai entre as promessas eleitorais e a prática politica e mostra que o chamado “amor ao Interior é fogo que arde sem se verem resultados”. É platónico, digo eu.
É claro que conseguirmos o princípio da redução já foi um ganho e ele tem que ser entendido como o início de um processo que tem que ser imparável até à abolição definitiva das portagens e que se inicia com o próximo OE.
Muito sinceramente espero que os partidos que suportam o governo do PS na Assembleia da República queiram de forma verdadeira o fim das portagens e não vejam nelas um alimento para a luta. Se assim for (e acredito que assim seja) o que se exige é que uma das condições para a aprovação do próximo Orçamento de Estado seja a de o mesmo definir um calendário de reduções até à abolição total das portagens.
Bem! E até lá, à abolição? O que fazer?
Ganhámos uma etapa, não ganhámos a guerra. Agora, por isso, só nos resta continuar a luta. Todos juntos (Comissão de Utentes, USCB/CGTP-IN e seus sindicatos, Associações de Empresários e os cidadãos em geral).
Está-me a pena a fugir para o vício e para a necessidade. A luta continua!
Luís Pereira Garra
(Coordenador da União dos Sindicatos de Castelo Branco)

03/08/2016
 

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