9 de março de 2016

Elsa Ligeiro
O Elogio da Poesia - José Guardado Moreira

Há poetas que laboriosamente trabalham, em silêncio, na procura de palavras que expressem o indizível, numa tentativa de atingir uma linguagem depurada e onde o silêncio é o elemento mais próximo do seu ofício.
Tenho encontrado poucos poetas com estas características, ao longo da minha carreira enquanto editora de poesia, que iniciei em 1993.
O José Guardado Moreira é um poeta que admiro pela sua poesia, mas também pelas qualidades que acho importantes num grande poeta: é meticuloso, perfeccionista, e entende o ofício de poeta com uma discrição que só valoriza o seu trabalho.
Não só por estas razões, mas também por elas, editei quatro livros de poesia de José Guardado Moreira, dois na A Mar Arte Editora (já desaparecida); e dois já na Alma Azul; e sempre que tenho que oferecer um livro de poesia a um visitante estrangeiro de um país de Língua Oficial Portuguesa (normalmente brasileiro), é O Jardim Perfeito ou Antes do Mundo que entrego com indisfarçável orgulho.
Editei o livro Fulgor, há vinte anos, em 1996, na A Mar Arte Editora, e já aí a escrita de José Guardado Moreira é densa e precisa: ”Aproxima-te da caverna do poente/ onde jaz o cardo do mundo. / Vê como cintila a luz do interior da árvore, / a semente de boca cerrada. / O fulgor não tem fim”.
Com o apoio da Câmara Municipal de Castelo Branco saiu em 1999, Epopeia, livro maior, apesar das suas escassas 32 páginas: “… Eu sou aquele que recolhe/ as sementes que trouxeste/ e lanço de novo à terra/ onde o absoluto se revê/…Eu sou o traço de união/ O que não tem atributos/ Eu sou o eixo do círculo de fogo…”, escreve José Guardado Moreira.
Já na Alma Azul sai, em 2002, Antes do Mundo e O Jardim Perfeito (2005), livro de duas partes distintas, e que na primeira contém poemas curtos e alguns aforismos, agrupados sobre os quatro elementos: Fogo, Água, Terra e Ar.
Destaco alguns exemplos da sua contenção verbal:
O Fogo – 7: Quando o olhar dela/ por dentro tange / tudo desaparece/ e apenas fica o perfume/ da rosa de neve que floresce/ no sopro da união / do amor consigo mesmo / na paixão do eterno instante.
Água – 8. A água do coração/ é uma tempestade / subindo no poço/ para o relâmpago.
Terra – 2. Na aurora do teu rosto/ vejo dissipada a solidão/ daquele que busca/ no oceano do tempo/ a manhã plena/ das tuas mãos.
Ar – 6. O vento quando fala/ acalenta apenas o desejo/ de mais claridade”.
Como escreveu um dia David Mestre, a propósito da poesia de José Guardado Moreira, no Jornal de Letras, “O prazer de ler boa poesia é um estado de alma encantatório que o autor proporciona a quem a queira ouvir com atenção e apetência. Um nome dos anos 90 que é já uma das suas mais sólidas referências”.
Resta acrescentar que José Guardado Moreira nasceu em Castelo Branco, e além da poesia e da crítica literária, publicou ficção A Sombra do Vento e Teatro Trakhoma-Farol.

09/03/2016
 

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