24 de janeiro de 2018

José Dias Pires
O QUE É IMPORTANTE, QUANDO SE VÊ UM ARVOREDO?

“Quando se vê um arvoredo, o importante não são as árvores mas os espaços entre elas”, disse um dia Oscar Niemeyer, o grande arquiteto brasileiro.
Em Castelo Branco, foi no início dos anos setenta que, no município, se começou a reconhecer a importância das funções essenciais associadas à presença dos espaços verdes e à sua implementação. Contudo, passaram-se várias décadas e a cidade continuou sujeita a múltiplas ameaças como a excessiva densificação da malha urbana, associada a situações de especulação fundiária e à ausência de um planeamento adequado.
Não houve, nessas alturas, liderança e planeamento estratégico para que a qualificação paisagística, em particular nos aspetos diretamente dependentes da estrutura verde urbana, estivesse associada à envolvente não construída da cidade que, em Castelo Branco é predominantemente agrícola e florestal e, felizmente, apresenta ainda uma fraca densidade de ocupação.
Nos últimos 15 anos assistiu-se a um conjunto de ações para a efetiva mudança de paradigma que determinam ser obrigatório perceber se estão respondidas as questões essenciais que se lhe associam.
— Será que a nossa cidade se enquadra nos padrões recomendados para a estrutura verde urbana?
— Será que estamos capacitados para responder ao facto de que cada ser humano ter necessidade de uma quantidade média de oxigénio igual à que pode ser fornecida por uma superfície foliar de 150 metros quadrados?
— Será que a nossa estrutura verde urbana é de 40 metros quadrados por habitante como internacionalmente se recomenda?
— E se for, estaremos dotados de uma estrutura verde principal (de 30 metros quadrados por habitante) constituída por espaços verdes localizados nas áreas de maior interesse ecológico que permitam o funcionamento dos sistemas naturais (vegetação, circulação hídrica e climática, património paisagístico, etc.)?
— Será, pois, que estamos dotados de uma estrutura verde secundária (de 10 metros quadrados por habitante) constituída por espaços verdes que penetram nas zonas edificadas, apresentando um caráter mais urbano, e que se modifica ao longo do seu percurso, para constituir espaços de jogo e recreio, praças arborizadas, ou separadores entre trânsito e peões?
Sempre que me desloco a outras cidades de dimensão semelhante, fundado nestas mesmas perguntas, tenho feito um exercício comparativo com a nossa.
Tirando as grandes cidades do litoral, todas elas banhadas ou atravessadas por grandes rios, a nossa, que não tem rio, está na cabeça do pelotão.
Por cá, aos espaços verdes históricos, entretanto intervencionados, juntaram-se ou juntar-se-ão espaços enriquecedores da nossa estrutura verde urbana como o Parque Urbano da Zona de Lazer, o Parque Urbano das Violetas, a Quinta do Chinco, e a médio prazo a Quinta do Moinho Velho, o Parque Urbano da Cruz do Montalvão, o Vale das Hortas do Ribeiro (na projeção da rotunda Europa para o Vale do Romeiro) e o Barrocal.
É importante não ignorar que estes três últimos espaços têm estado sujeitos a fortes pressões de especulação imobiliária, por se inserirem na mancha de expansão urbana e tornam-se muito apetecíveis para aqueles que sempre preferiram ignorar o seu elevado interesse em termos geomorfológicos e fitossociológicos e a sua singularidade natural única dentro da cidade.
Quase todos (incluo-me no grupo) não temos dificuldade em dar asas aos sentimentos que se fundam em sensações, mesmo que não decorram do conhecimento informado daquilo que nos rodeia.
Prefiro todas as ações que contribuam para erradicar, em termos absolutos, quaisquer pretensões de especulação imobiliária, e que devolvam aos cidadãos os espaços que entretanto se transformaram, intencionalmente ou por incúria das autoridades, em lixeiras públicas ou salas de chuto a céu aberto.
Quase tudo é preferível à expansão endémica do betão e do metal. Importa saber explicar o que se pretende e depois saber ouvir o que se explica — só assim, a favor ou contra, se aprofunda o exercício da cidadania.
Falar com fundamento, para apoiar ou criticar as soluções e os projetos, é uma obrigação de todos nós porque, na verdade, os espaços defendem-se a si próprios, quando têm gente dentro, mas só podem ter gente dentro se forem pensados de forma prospetiva para as pessoas, com olhos no futuro e respeito pelo passado.
Sinto-me, como alguns dos que pensam diferente de mim, cada vez mais motivado para compreender que quando olho um arvoredo o importante não são as árvores, mas os espaços entre elas, e também quero acompanhá-los no desejo de ser (e na obrigação de estar) informado para descobrir, afirmar e escolher o que mais gosto, do que não gosto, sem cometer erros de avaliação e sem usar fogos-de-artifício e fanfarras fora de tempo e de lugar, mesmo que alguma gritaria seja polida e o foguetório seja subtil (e hipócrita — nos que nunca se opuseram anteriormente às florestas de cimento que atabafavam a cidade).
Estes últimos não os quero por companhia.

24/01/2018
 

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