28 de março de 2018

Fernando Raposo
O TEMPO A QUE ESTAMOS DE COIMBRA É O TEMPO QUE, POR VEZES, MEDEIA ENTRE A VIDA E A MORTE

A notícia é recente, embora há muito que se aguardava.
Coimbra fica ainda longe e a estrada que nos leva até lá não é para brincadeiras. Uma hora e meia, mais coisa menos coisa, é quanto nos separa do hospital mais próximo quando por cá, no interior, a dor não tem remédio e precisa de outros cuidados. O tempo a que estamos de Coimbra é ainda muito tempo, o tempo que, por vezes, medeia entre a vida e a morte.
Por isso, o anúncio, pelo ministro da saúde, Adalberto Fernandes, da criação da unidade de cardiologia de intervenção no Centro Hospitalar da Cova da Beira (CHCB) é, para a grande maioria dos que aqui habitam, entre Castelo Branco e Guarda, uma excelente notícia.
Admito contudo, que para alguns o ideal seria replicar este tipo de unidades por todos os hospitais da região.
Foi assim noutros tempos, quando o dinheiro que jorrava de Bruxelas parecia não ter fim.
Agora, temos maior consciência de que não é possível ter tudo, e em todo o lado, com a qualidade bastante que se requer e em condições de sustentabilidade.
Não sendo os recursos inesgotáveis, é imperioso que a sua utilização seja a mais criteriosa quanto possível.
No que à região da Beira Interior respeita, importa que os critérios a adoptar quanto aos investimentos a realizar na área da saúde, sejam inteligíveis e consensualizados com as administrações e pessoal de cada uma das unidades de saúde envolvidas (Unidades Locais de Saúde de Castelo Branco e da Guarda e Centro Hospitalar da Cova da Beira) e também com os autarcas, enquanto representantes das populações locais.
Importa pois evitar que os investimentos sejam condicionados por lógicas de natureza corporativa ou de cumplicidade partidária e agenda eleitoral.
A cegueira partidária leva-nos muitas vezes a esquecer o todo, a não enxergar o que vai para além dos limites do nosso umbigo e a não compreender o que é o interesse comum, para nos concentrarmos, na maioria das vezes, naquilo que são as nossas ambições de ascensão política. Atitude que não tem contribuído para o desenvolvimento equilibrado do interior do país.
Temos em todas as unidades de saúde da região, alguns serviços clínicos de excelência que dão resposta capaz, mesmo em situação de doença extrema. Estes devem ser potenciados ao serviço de toda a região do interior e devem servir de exemplo para a criação e reforço de outros serviços clínicos, distribuídos de forma equilibrada pelas diferentes unidades, numa lógica de complementaridade, evitando-se, sempre que possível, a criação de redundâncias e desperdícios.
Aquando da recente visita do ministro da saúde à Covilhã, o presidente da Câmara, não deixou de relembrar a necessidade de “concretização da Unidade de Medicina Nuclear “ que está prevista para o Fundão e integra o CHCB.
Também a criação da unidade de radioterapia que no início de 2016 chegou a ser equacionada para esta região, acabou por ficar no Centro Hospitalar Tondela/Viseu, o que obrigará a que os pacientes do sul da Beira Interior continuem a deslocar-se a Coimbra.
Importa pois, que a criação destas unidades, ou de outras que venham a criar-se, seja fruto da discussão partilhada e do consenso mais alargado entre os diferentes actores locais (Administradores, colaboradores e autarcas) e não seja antes, ou apenas, consequência, avulsa, da maior ou menor capacidade reivindicativa do poder autárquico instalado em cada uma das cidades desta região.
Só assim será possível assegurar a todos quantos vivem nesta região do interior, serviços de saúde de qualidade, evitando-se as penosas deslocações a Coimbra, porque o tempo a que dela estamos, pode ser do tamanho do tempo que medeia entre a vida e a morte.

28/03/2018
 

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