Carlos Semedo
INTERROGAR O TERRITÓRIO E COMUNIDADES
A Bienal Castelo de Artes – Encontros de Castelo Branco, encontra-se no território de uma forma mais visível, desde 3 de Outubro. Já aconteceram apresentações em S. Vicente da Beira, depois de dez dias de trabalho da espanhola Pepa Diaz-Meco, em torno das memórias e anseios para o futuro da comunidade. O Salão Nobre da Junta de Freguesia encheu-se para receber o resultado final, um filme e uma dramatização, que contou com a participação de diversos habitantes da vila. Entretanto, já Rui Dias Monteiro, poeta e fotógrafo, se encontrava em residência em Alcains. A sua presença nesta vila, vai resultar na edição de um livro, que seguramente interpelará o território em questão. Esta é, aliás, uma das funções desta iniciativa: interrogar o território, o seu passado, presente, questionando o seu futuro.
Na Casa Amarela, Carlos Farinha inaugurou Narrativas, uma exposição de pintura que motivará um momento pedagógico, no mês de Novembro. A formação é, também, uma marca distintiva do projecto Castelo de Artes. Esta exposição ficará patente até final de Dezembro.
Nas aldeias de Juncal do Campo, Freixial do Campo, Barbaído e Chão da Vã, a Terceira Pessoa Associação trabalhou durante meses, preparando o espectáculo Da Minha Aldeia Vejo Quanto da Terra Se Pode Ver No Universo, que contou com a interacção de dezenas de pessoas destas localidades. No dia 19 de Outubro, um Salão da Junta cheio de pessoas curiosas assistiu à estreia.
Ao mesmo tempo, em Sarzedas, o CEM – Centro em Movimento, dirigido por Sofia Neuparth e com uma equipa de 7 pessoas, preparava O Movimento das Pedras, que foi apresentado na antiga Galeria 102 – 100, perante dezenas de pessoas que lotaram o espaço. No dia seguinte, na Praça do Pelourinho, na vila, foi a vez da comunidade conhecer o trabalho desenvolvido ao longo da semana.
Desde sábado passado, João Gama está em Sobral do Campo e Ninho do Açor, uma residência dedicada à pintura e ilustração. O desafio é desenhar e pintar no meio da comunidade, em locais públicos, com sessões de apresentação do trabalho no final da semana. O encenador Nuno Pino Custódio iniciou a sua colaboração com o Rancho Folclórico de Escalos de Cima e vai trabalhar durante um mês com este grupo.
Ao longo de um mês, a Associação Pé de Pano, Projectos Culturais trabalhou a partir de conversas realizadas com antigos trabalhadores da indústria têxtil de Cebolais de Cima/Retaxo e preparou um objecto performativo que motivou, no passado domingo, a ida de dezenas de pessoas até ao Mutex – Museu dos Têxteis, para assistir ao espectáculo.
Durante uma semana, o Coro de Catedral de Manchester deslocou-se até Castelo Branco, na sequência da inauguração dos frontais dos altares da Catedral de Manchester concebidos por Cristina Rodrigues e realizados em Bordado de Castelo Branco. Ao longo da semana, desenvolveu um vasto programa de interacção com a comunidade. Logo no domingo, participou na Cerimónia Ecuménica realizada na Sé Catedral, na qual o Deão de Manchester participou. Na quarta-feira passada, o Coro apresentou-se no Centro de Cultura Contemporânea, num concerto que esgotou o espaço e, dois dias depois, despediu-se da nossa região, com um concerto na Igreja Matriz de Alcains, mais um sinal identitário do Castelo de Artes, a disseminação pela totalidade do concelho. A ligação às Escolas também esteve no programa, com o Coro a visitar um Agrupamento de Escolas da cidade e o Conservatório Regional, onde realizou pequenos concertos, conversando com os alunos.
Castelo de Artes – Encontros de Castelo Branco é cada vez mais um momento de empatia dos artistas e das comunidades, estimulando vários patamares de diálogo. O passado e o presente, as diversas expressões artísticas, o olhar de quem chega e o de quem vive naquele lugar, o afecto que se partilha, a escuta do outro e, concluo, a esperança que se reaviva.