12 de dezembro de 2018

Antonieta Garcia
PALAVRAS SONOLENTAS…

Às vezes, apetece abanar as palavras. Dizem-se, escrevem-se e são moles, balofas, flácidas. Asténicas e apáticas raramente prestam para pôr pontos nos is, Fogem a sete pés da claridade, relaxadas, enoveladas, invertebradas. Desistentes optam por aplicar o “nariz de cera” protetor, politicamente correto, a qualquer tema. Anseiam pela ordem, dormem sestas longuíssimas, cabeceiam, perdem-se em narrativas repetitivas, rotineiras, que acenem com happy end à vista: os maus castigados e os bons premiados na versão maior: casaram e foram muito felizes.
Ora, chegou o Advento. O que pode escrever-se sobre o Natal que não seja um cliché, um lugar-comum previsível?
- “Boas festas e Feliz Ano Novo” é o desejo mais propalado aos quatro ventos. Como dizer este sentir de forma a que nas palavras transpareça o afeto, o bem-querer? Hei! Palavras!?! Dorminhocas!!!
Ano após ano, mais do mesmo entra portas adentro em postais, em árvores cheias de luzinhas que se fartam de piscar, de meias estapafúrdias que hão de guardar, na lareira, os presentes-que-nunca-lá-cabem, para os mais novos, mas é assim este capítulo da história… Usam-se mais uns ursinhos brancos, polares, veados, raposas e lobos, uns azevinhos artificiais com muitas bagas vermelhas, envernizadas, e uma overdose de estrelas; compram-se uns “zés ”vestidos de Inverno…e o Natal começou. Segue-se o corre-corre das compras; as prendas reais e as votadas a “lixo adiado”, cumprem a data.
E o Pai Natal? Nunca falta! Personagem adaptada e formatada a partir de alguém que, contam-nos, ajudava todos, dava o que tinha e não tinha…. Afligiam-no muito as crianças sem proteção, abandonadas. Chamava-se São Nicolau, o homem bom, generoso que serviu de modelo ao atual Avô velhinho, de longas barbas brancas, vestido de Pai Natal.
Nuns locais, dizia-se que se deslocava num trenó puxado por oito renas, noutros aparecia num burrinho.... Indispensável era o saco que trazia cheio de presentes para deixar nas tais meias, durante a noite. O santo Homem entrava pelas chaminés das casas, durante a noite… Como está bem de ver, a figura e a narrativa do São Nicolau são irmãs do Pai Natal.
Modernamente, a igualdade de género inventou uma Mãe Natal. Acertou com a escolha? Não. A companheira não é uma avozinha de cabelos brancos, óculos redondos, sorridente, com as rugas que a vida foi lavrando… Ao Pai Natal ofereceram uma modelo com traje vermelho, minissaia, magríssima como estatuem os códigos do belo. Também traz um saco pequenote, mais como acessório do que para desempenhar a função de “embalar” presentes.
Os cachopos não acreditam nela. Nenhum escreve ou escreverá uma carta à Mãe Natal! (Ei! lutadoras pela igualdade de género ou se arregaçam as mangas e se criam uma mãe ou avó a sério, ou esta batalha já está perdida).
Jesus talvez seja o protagonista mais esquecido do Advento, da Luz. O presépio, cenário dos acontecimentos, foi substituído por luzinhas … O presépio abandonou-se porque era uma trabalheira? Não se acredita. Afinal bastam três figuras – São José, Nossa Senhora e o Menino - que podem enriquecer-se com os Reis Magos, a burra e a vaca, pastorinhos, lavadeiras, moleiros, ovelhinhas… e alargar a história do Menino que trouxe uma mensagem de Amor e de Paz aos homens de boa vontade… Irmão dos pobres, protegeu-os.
E na Beira, nos louvores à luz ainda se ouve cantar: “Ó meu Menino Jesus / Boquinha de requeijão / Dá-me da tua merenda / que a minha mãe não tem pão //” Ou: “Ó meu Menino Jesus / Boquinha de marmelada / Dá-me da tua merenda / que a minha mãe não tem nada.”//
A partilha e a fraternidade, de mãos dadas com a voz dos simples, criam meiguices e entendimentos maiores. Afinal, como qualquer outro garotito todos imaginam que: “O Menino chora, chora/ Chora com muita razão:/ Fizeram-lhe a cama curta, / Tem os pezinhos no chão.” //
- Boas Festas e Feliz Ano Novo!
Nariz de cera? É! Mas cada um viverá o Natal, ou a prender com prendas (fios lassos) o bem-querer, ou festejando o melhor presente que todos os deuses ensinaram: a Amar…
Um happy end no texto, previsível… As malandras das palavras abrem alçapões interiores e, até na sintaxe do Natal, que é do aumento de consciência, da luz?
- Boas Festas!

12/12/2018
 

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