João Belém
A LINGUAGEM E A EVOLUÇÃO CULTURAL
A linguagem fez-se para que nos sirvamos dela,
não para que a sirvamos a ela
Fernando Pessoa
A linguagem é uma das principais características que fazem da nossa espécie única.
Se considerarmos a aprendizagem como o mais poderoso dispositivo do genoma para ir alem dos seus próprios limites, então a linguagem é o instrumento mais eficaz para aprender.
A nossa capacidade para usufruir de todo o potencial da linguagem faz dela o mecanismo decisivo como fundamento da aprendizagem, para além de ser o que mais diferencia os seres humanos dos outros animais. Isto deve-se à possibilidade de a linguagem humana transmitir informação com uma eficiência que não se encontra em nenhum outro animal. É, por isso, fundamental para uma rápida transmissão da cultura e é também um componente necessário à elaboração de grande parte dos nossos pensamentos. A sua importância ultrapassa, portanto, a função de “simples “ meio de comunicação.
Como é possível que o homem seja capaz de dominar todo um idioma e os chimpanzés, que partilham mais de 98% do genoma com os seres humanos, não sejam capazes de o fazer?
Uma possível razão, de acordo com inúmeras investigações, é o facto de, provavelmente, não terem nenhum interesse em desenvolver toda uma linguagem à semelhança dos idiomas humanos.
No entanto, também é pertinente que uma das principais diferenças entre os seres humanos e os outros animais, em particular os mamíferos, seja que somos os mais hábeis a apreender o significado de novas palavras.
Ora vejamos: uma criança de 18 meses inicia uma etapa chamada” explosão de vocabulário”, durante a qual aprende uma média de 50 palavras e, uma vez superado este limiar, aprende entre 5 a 40 palavras por semana. Podemos assim imaginar quantas palavras dominará aos 3 anos. Assim com essa idade, poderia já conhecer e articular uma linguagem mais complexa do que a de qualquer outra espécie do planeta, com um ritmo de aprendizagem que aumenta à medida que se vai aprendendo mais. Com o avançar da idade, mas antes de começar a escola ( ou seja , sem as vantagens resultantes de uma educação formal) , as crianças aprendem, segundo os mais recentes estudos, umas 9 palavras por dia.
Como se fosse uma esponja, o cérebro das crianças absorve o vocabulário do meio que as rodeia sendo capazes de aproveitar o que sabem de uma palavra ou de um conjunto de palavras, para tentar compreender as demais.
Porque dispõem os seres humanos desta peculiar habilidade para estabelecer relações entre significados e sequências de palavras?
A resposta ainda é uma questão controversa no domínio científico.
Linguistas de renome internacional, como Noam Chomsky, Steven Pinker e muitos outros, afirmam que cada um de nós nasce com uma gramática universal, um instrumento de aquisição linguística que nos diz de imediato que tipo de línguas podemos compreender e falar.
Sugiro que reflitamos sobre este tema , de facto, a linguagem é um dos exemplos mais surpreendentes das capacidades que se podem desenvolver graças à posse dos instrumentos adequados para a aprendizagem.