27 de fevereiro de 2019

NÃO REGRESSOU À PRISÃO DEPOIS DE SAÍDA PRECÁRIA
Homicida espanhol esteve em Proença

O espanhol Fernando Iglesias Espiño, condenado a 50 anos de prisão por matar a mulher e os dois filhos, em Las Palmas de Gran Canaria, em 1996, era procurado pelas autoridades espanholas e internacionais desde 13 de agosto de 2018. Aproveitou a sua primeira saída precária, para não regressar à prisão, depois de ter cumprido 22 dos 25 anos a que foi condenado.
A polícia acreditava que o taxista galego podia ter fugido para Portugal. E tinha razão, pois ele esteve em Proença-a-Nova, em agosto do ano passado.
Fernando Iglesias Espiño esteve no final de agosto do ano passado em Proença-a-Nova, onde jogava ténis, consultava a Internet nos postos públicos, fazia compras. Passeava-se pelas ruas, como se nada se passasse. Conviveu com algumas pessoas, que foram ouvindo as suas histórias. Invenções que escondiam a sua verdadeira identidade. As refeições eram tomadas no interior de uma velha carrinha Ford Transit, sendo que por vezes comprava comida feita, mas comia sempre na carrinha.
Segundo Carlos Lopes (nome fictício) Fernando Iglesias Espiño era um homem saudável, que odiava o cheiro do tabaco. Em Proença-a-Nova apenas travou conhecimento com meia dúzia de pessoas. Carlos Lopes foi mesmo uma espécie de guia, com quem jogou ténis e contou muito da sua vida. Ou verdades ou mentiras.
O seu passatempo favorito era jogar ténis, nos campos localizados nas traseiras da Biblioteca Municipal. Falava em espanhol, mas todos o entendiam. Desafiava outros praticantes para jogar ou para fazer equipa. Contam que era muito bom naquele desporto. Assim, como conta Carlos Lopes, o homem, que dizia ter 58 anos, gostava muito de Proença, pois era calmo e não havia poluição.
Informou que vivia em Madrid, mas largou tudo precisamente devido à poluição e por naquela cidade se fumar em exagero. Veio para Portugal, chegou a Proença-a-Nova, mas já tinha percorrido várias regiões do Interior. Contava que tinha casa em Torres Novas, onde regressava quando se aborrecia de percorrer Portugal, onde ia fazendo muitos amigos. Regressava a Torres Novas também no inverno, porque estava muito frio para viajar. Parecia ter-se afeiçoado por Portugal, pois referia que as pessoas lhe pareciam simpáticas. Em Espanha contava serem mais frias e indiferentes. Isto e muito mais confidenciou a quem lhe caiu na graça.

Portas e volante
bloqueados com cadeado
Fernando Iglesias Espiño passou a ser uma figura conhecida em Proença-a-Nova, onde passava de calções, roupa desportiva, boné e raquete de ténis na mão. O percurso que fazia na vila era quase sempre o mesmo, afastando-se da zona propriamente urbana. A viatura, que servia de dormida e onde cozinhava, estava estacionada no Parque Urbano. Com matrícula espanhola e os vidros tapados com panos, ninguém sabia qual a sua rotina no interior. Dormia no banco de trás.
Foi-lhe sugerido que fosse de autocarro à Praia Fluvial do Malhadal, mas como não tinha GPS rejeitou. Carlos Lopes diz que Fernando Iglesias Espiño veio ter com ele, sem o conhecer, e a primeira coisa que perguntou foi precisamente pela Praia Fluvial do Malhadal.
Revelou também que nunca teve filhos e foi casado quatro vezes. Separou-se porque dizia que as mulheres só queriam dinheiro. “Era boa pessoa, nunca pagou nada, mas deu-me uma sandes”, realçou Carlos Lopes.
Parecia ser muito poupado ou faltava-lhe o dinheiro. Carlos Lopes diz que este foi uma vez ao bar da Galeria Municipal, mas achou caro e não voltou. Não quis ir à discoteca, por ser caro. Também teve previsto ir a um café registar as apostas do Euromilhões, mas não foi.
Tinha cadeados para fechar as portas da viatura por dentro e também bloqueava o volante.
Disse que tinha um curso de tecnologias de informática, área de que percebia muito. Comunicava pouco por telemóvel. Carlos Lopes jogou ténis com ele. Jogava bem. Sempre ao final da tarde. Aparecia de calções, t-shirt e ténis. Usualmente trazia uma camisola à cintura para sair à noite.
“Jogava ténis nos outros locais por onde passou. Aliás indicou, via Internet, todas as rotas e locais onde esteve antes. Era humilde, dizia que jogava mal, mas a verdade é que era muito bom”, revela Carlos Lopes, destacando que ele tomava banho de mangueira, à noite, junto à Biblioteca Municipal. Uma vez em que não havia água na mangueira, tomou banho num lago do jardim.
Depois de almoço, saía da viatura e ia consultar a net, para falar com os amigos on-line, na maioria caravanistas como ele. Seguidamente, podia ir às compras, com um carrinho de compras e mochila às costas.
Um dia partiu. Avisou os amigos mais chegados. Disse que ia para Oleiros, mas depois de contactadas algumas pessoas naquele Concelho, descobriu-se que ninguém o viu. Talvez tivesse mudado de ideias. Em Proença-a-Nova, apesar de haver um pedido internacional de captura, as autoridades de nada suspeitaram, e muita vez passou junto ao posto da GNR local.

Cibernauta
compulsivo
Fernando Iglesias Espiño esteve em Proença-a-Nova cerca de três semanas. Todos os dias consultava a net num posto público. Trazia uma pala na cabeça por causa do sol e “para tapar a careca”, outras vezes acompanhava-o um pedaço de papel-cartão para proteger a cara do sol abrasador de verão. Como conta um funcionário, não frequentava a zona de jornais, apenas lhe interessava a Internet.
Fernando Iglesias Espiño, de 63 anos, não voltou à prisão após uma saída precária. Faltavam-lhe cumprir três anos da pena. Na prisão era ordeiro, pelo que o seu não regresso causou surpresa. “O centro prisional comunicou o seu não regresso ao tribunal de Las Palmas, que ordenou ordem de busca e captura, mas as autoridades só foram informadas dias depois”, pode ler-se na edição on-line de um jornal espanhol.
Fernando Iglesias Espiño matou a mulher, durante a noite, com golpes de uma picareta que acabara de comprar. Depois assassinou a filha, de 18 anos, que estava a ver televisão. E também matou o filho, de 12 anos, quando este dormia.
Paulo Marques

27/02/2019
 

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