João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
UM DESASTRE AMBIENTAL de consequências que poderão ser catastróficas tem deixado em choque meio mundo e mobiliza a atenção dos líderes mundiais, principalmente os europeus. Durante este tempo o presidente brasileiro mostrou-se escandalosamente insensível ao desastre e teve mesmo a desfaçatez de, sem quaisquer provas, acusar as ONG ambientalistas que atuam na Amazónia, de serem as autoras do crime, com uma explicação infantil para as motivações do crime, a começar na reação à perda de apoio financeiro e a acabar no objetivo de quererem colocar o mundo contra o governo de Bolsonaro. Só mesmo os adeptos mais incondicionais e acéfalos terão acreditado e por isso parece ter deixado cair a acusação, nunca se referindo diretamente à hipótese mais credível, a da ação combinada entre 70 fazendeiros, em grupo de WhatsApp, nas redes sociais, organizando aquilo a que eles mesmo chamaram de O Dia do Fogo. O objetivo era o de incendiar no dia 10 de agosto áreas de matas e terras devolutas para que o fogo atingisse a Floresta Nacional de Jamanxi, de 1,3 milhões de hectares de uma riqueza natural incalculável e chegar assim à área que cobiçam há muito e onde desde há muitos anos acontecem com regularidade conflitos entre os agrários e as populações indígenas. Jair Bolsonaro deixou arder enquanto pôde porque o desmatamento e alargamento das zonas de cultivo e criação de gado na Amazónia sempre foi o seu objetivo, até para satisfazer o lobby agrário que o apoia. E só quando o clamor internacional era tamanho, ele se sentiu na obrigação de mobilizar o exército, mesmo passando pela recusa de apoios internacionais de vários milhões, acusando os dadores como a França de colonialistas e a perda de muitas centenas de milhões de apoios da Alemanha e Noruega em projetos de defesa da floresta amazónica. Mas por muito que as imbecilidades do presidente não queiram, a floresta amazónica não é só do Brasil. É de todos nós, ainda para mais numa época em que cada dia se sofrem consequências dramáticas das mudanças climáticas. E segundo muitos analistas estes fogos postos com o seu beneplácito, vão mesmo acabar por chamuscá-lo.