FRANCISCO PAISANA TEM DESEJO QUE SERVE DE ALERTA
Cardiologia necessita aumentar e renovar quadro de médicos
O diretor do Serviço de Cardiologia do Hospital Amato Lusitano (HAL) de Castelo Branco, da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco (ULSCB), Francisco Paisana, afirma que a estreia no Distrito de Castelo Branco da implantação de um Cardioversor-Desfibrilhador Implantável (CDI) subcutâneo, no passado dia 22, na unidade de saúde Albicastrense foi um êxito. De caminho aproveita para destacar a importância e a qualidade oferecida pelo Serviço de Cardiologia, mas quando questionado sobre o que deseja para o futuro aponta para a necessidade de renovação do quadro de médicos, deixando, assim, um alerta em relação ao futuro.
Francisco Paisana, no que se refere ao primeiro implante do desfibrilhador subcutâneo, considera que “é um passo importante, porque demonstra que estamos ativos, em primeiro lugar, e é um aparelho que realmente tem a vantagem de, em relação a outros que nós já cá pusemos, que são transvenosos, ter menos incidência de infeções”.
Acrescenta que “é um aparelho que tem a grande vantagem, como os do mesmo tipo, de tratar a morte súbita” e explica que a morte súbita, “hoje em dia, é uma das nossas principais preocupações. Pela sua própria designação de súbita é difícil de prever, contudo, o nosso objetivo é junto dos doentes tentar identificar os de maior risco nesta situação. E depois de identificados usamos estes aparelhos que detetam e tratam, simultaneamente, estas situações, evitando a morte súbita”.
Francisco Paisana explica, também, que “este tipo de aparelhos ainda nunca tinha sido implantado aqui, porque, realmente, nós não tínhamos esse know-how” e adianta que, “apesar de não ser uma cirurgia complicada, não dispúnhamos disso e, felizmente, contamos com o apoio de um colega electrofisiologista dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), com bastante experiência nesta área, que nos veio fazer esta primeira intervenção, para nós futuramente podermos manter estas implantações e oferecê-las aos doentes que tratamos”.
Questionado sobre as vantagens do implante destes desfibrilhadores subcutâneos, o especialista afirma que “a grande vantagem é a questão das infeções e pelo uso dos acessos vasculares. Os acessos vasculares são necessários para a implantação de pacemakers, de cateteres de diálises, para outras situações. Se os formos poupando temo-los disponíveis para outras situações que os doentes possam ter e, por outro lado, são de menos infeção”. A isto há igualmente a juntar que “em relação ao doente a nós próprios (médicos) o facto de não usarmos RX poupa-nos um bocadinho ao efeito das radiações”.
As vantagens, no entanto, não acabam por aqui, uma vez que também “há a relevar o aspeto estético principalmente para alguns dos nossos doentes, sobretudo do sexo feminino, porque este aparelho ainda tem alguma dimensão, mas é alojado mais na região subaxilar, logo menos visível”.
“Procedimento
foi um sucesso”
O primeiro doente a receber o desfibrilhador subcutâneo foi um homem, de 49 anos, que apresentava manifestações de síncope e uma patologia potencialmente fatal por arritmias graves, que este aparelho deteta e trata através da administração de choques elétricos.
Francisco Paisana afirma que a intervenção realizada dia 22, “correu muito bem, como era de esperar, dadas as condições que o colega já domina muito bem, e o doente por seu lado, também recuperou muito bem da anestesia . Está perfeitamente consciente, orientado, satisfeito, portanto o procedimento foi um sucesso”.
Agora, depois do doente receber alta, o médico explica que, “como é natural; o aparelho será revisto periodicamente, assim como acontece com os pacemakers”, sendo no entanto realçado que “se o aparelho tiver que atuar, se tiver um evento, terá que vir mais cedo, mas, em princípio, periodicamente será avaliado e vai dispor também de um dispositivo importante que é um aparelho de monitorização remota, que vai transmitindo diariamente como se encontra o sistema e se houve algum evento que tenha justificado a intervenção do aparelho”, deste modo, conclui, “independentemente da avaliação presencial, será avaliado à distância e isso também introduz um elemento de segurança adicional a este procedi mento”.
Quanto ao facto deste procedimento se ter realizado em Castelo Branco, quando até agora só era possível em Coimbra, Francisco Paisana frisa que “além daquilo que implica o próprio procedimento, falamos de umas três deslocações por ano, que deixam de ser necessárias”.
Questionado se para já está previsto o implante de mais desfibrilhadores subcutâneos, avança esclarece que “os doentes candidatos não estão completamente identificados”, embora adiante que “são mais que aqueles que efetivamente tratamos, poderão ser na ordem de um a dois por cento da população”.
Feito este esclarecimento revela que “há uma pessoa que está em estudo, que poderá ser candidata”.
Necessidade de aumentar
e renovar os recursos humanos
Francisco Paisana perante o facto desta intervenção “chamar alguma atenção”, aproveita para deixar “uma mensagem, para outros colegas mais jovens”, no sentido que, “aqui, no Interior, podem exercer a especialidade com o uso de praticamente todas as técnicas que ela oferece e, portanto, serão bem-vindos para dar continuidade ao Serviço, que neste momento dispõe de profissionais já com idade, diria de pré-reforma, pelo menos a maioria”.
No que respeita à renovação de cardiologistas acrescenta que “seria útil que a própria tutela nos desse hipótese de darmos essa continuidade. Claro que isso depende tudo de questões organizacionais, o que é facto é que o Serviço a curto médio prazo poderá ficar um bocado desfalcado e isto é realmente uma bandeira de afirmar a nossa presença e a necessidade de se lembrarem aqui do Interior, que precisa realmente de uma assistência de proximidade e de prontidão, sobretudo em situações com gravidade e que estaremos desfavorecidos em relação ao Litoral, porque os doentes não só nestas patologias de arritmias, mas também na hemodinâmica, nos pós-enfartes, estamos um bocado desfavorecidos. apesar de podermos dispor do transporte por helicóptero, mas nem todas as situações se compadecem com demoras e é importante que o Serviço tivesse outra disponibilidade que agora vai tendo dificuldade em acorrer a todas as situações de necessidade”.
Por isso, não esconde que enquanto diretor do Serviço de Cardiologia o seu maior desejo é que “os recursos humanos aumentassem e, sobretudo, se renovassem”, sublinhando que, “neste momento estamos a fazer o possível para manter o nosso nível de proficiência, mas temo realmente por um futuro mais próximo”.
Avançar com a implantação
de aparelhos de ressincronização
Francisco Paisana defende que após a estreia do implante do desfibrilhador subcutâneo “temos de manter o nível de inovação que este aparelho representa, mas há outras técnicas que estão aqui, no breve espaço de tempo, para ainda dentro das arritmias e, sobretudo, na insuficiência cardíaca, que está a ter uma prevalência crescente, dispormos de aparelhos de ressincronização, ou seja, que permitem tratar a insuficiência cardíaca, melhorar a performance do coração através de uma estimulação simultânea dos ventrículos”.
Nessa área revela que em relação a “esses aparelhos também temos a perspetiva, com a ajuda do colega que nos ajudou desta vez, de a curto prazo os começarmos a implantar aqui, no nosso Serviço. Um dos meus desejos mais próximos é que nesta parte, com a quantidade de doentes a tratar e que precisam deste aparelho, que nós tenhamos também a disponibilidade dos colocar aqui”.
Algo que ainda não acontece, porque, afirma “a maior dificuldade para colocar estes aparelhos tem sido não dispormos do intensificador de imagem com as características necessárias para fazermos este procedimento com melhor eficácia e com menos uso de RX. Dado o valor do aparelho, tem sido protelada, sucessivamente, a aquisição de um aparelho com características mais adequadas”.
Mas este será um passo importante que será dado, porque, avança, “ainda assim o colega, que já tem muita experiência desta área, vai tentar com o pouco que dispomos tentar realizar essa intervenção aqui”.
E conclui que “essa era outra área em que realmente também queríamos manter as funcionalidades do Serviço na prossecução dos obejctivos de atendermos a todas as necessidades dos nossos doentes”.
António Tavares