Edição nº 1637 - 6 de maio de 2020

José Manuel Batista
Abre-se um novo tempo

“Pela escola, por uma escola que seja digna desse nome, por uma escola que não ensine simplesmente o catecismo, ou a leitura, ou a escrita, mas tenha como ideal supremo o formar homens, se poderá renovar a face da terra.”
In Textos Pedagógicos, de Agostinho da Silva, a propósito de Pestalozzi.

Tudo muda. Sempre. Pode demorar séculos, milénios, mas a natureza tem as suas leis. E, inesperadamente, solta demónios adormecidos. O homem, que ostenta um falso poder, cheio das certezas que o desenvolvimento tecnológico, científico, social e económico lhe outorga, fica estupefacto face a tudo o que o assola. Indefeso, só então percebe a sua pequenez, a sua fragilidade de pequeno “bicho da terra”.
Numa reação emotiva a tão violenta estranheza, procura refúgio nos deuses, nas crenças, nas superstições, seja no que for: o mal vem apenas para os outros. E fica, passivo, a aguardar melhores dias, na esperança de que tudo volte a ser como dantes. Que o mito sebastianista se realize e nos salvemos miraculosamente.
Mas há quem assuma a realidade e enfrente o mal, na procura do antídoto.
Professores e agentes educativos de todo mundo reinventam-se, adaptam-se a novos métodos, interligam-se de forma solidária, sabendo que, do outro lado estão os alunos, que, por direito, requerem acompanhamento. O futuro pertence-lhes e o trabalho que com eles fizermos ajudará a construir um novo tempo.
Estamos tão longe uns dos outros e, todavia, tão próximos. Novas linguagens comunicativas são agora testadas. E é essa ligação, essa irmandade, que nos salvará enquanto comunidades distintas.
Nunca entendi o ensino sem amor, sem relação humana entre alunos e professor. Já se inventaram tantas metodologias, tantos modelos de avaliação, de gestão administrativa e pedagógica, se escreveu tanta literatura educacional - tudo experimentado, validado, recusado, retomado, consoante a matriz política de quem tem de nós tem o governo.
Porém, desta minha tão grata e já tão longa experiência, sempre intui que, para lá da relevância das práticas desenvolvidas, a transmissão do conhecimento é também uma narrativa de encantamento e de alegria, que nos faz sentir que o que se ensina e se aprende tem sentido, causa maravilhamento e edifica o homem livre.
O que tenho percebido nestes dias inclementes, tão perto que estou de terminar a minha missão, é que afinal não há princípio nem fim, apenas um contínuo recomeço a que todos, ao longo dos tempos, pertencemos e para o qual contribuímos humildemente.
A comunicação à distância que tenho mantido com os alunos, ensinou-me, nesta obscura primavera, que continuamos tão, ou mais, próximos do que estávamos, que o seu sentido de responsabilidade e de entrega ao que lhe é proposto é surpreendente, mesmo por parte daqueles de quem, erradamente, já duvidava.
São um exemplo. Por isso, nada está perdido. O devir será diferente e os paradigmas mudarão. Mas o futuro da educação será melhor. Connosco e com eles.

06/05/2020
 

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