José Dias Pires
E AGORA? É TEMPO DA DEMANDA DA CADEIRA DA ALEGRIA
Sair de casa, assim, descansadamente?
Não nos embriaguemos com mais do mesmo vinho velho. Mudemos o presente sem medo daqueles que dizem que “quem tenta alterar o passado apenas encarcera, definitivamente, o seu destino”.
Olhemos as mãos, sem luvas: que mundo é este, no nosso presente sem passado? Sim, olhemos as mãos sem luvas: que vida os seus dedos lhe merecem? Sim, sim, olhemos as mãos, as nossas mãos antigas e sempre novas: temos tanto caminho ainda por andar! Será que temos medo de deixar na vida uma impressão digital?
Então pensemos: se o futuro é sempre o presente imediato — o segundo seguinte — é melhor estar preparado para a duvidosa convicção da novidade que ficar ceticamente convencido da aparente sincronia do tempo.
E nada de previsões. Os prognósticos são evidências da memória que se antevê no longínquo futuro.
As adivinhações são pequenos quartos onde as crianças desenham quadros imaginários cujos traços de tudo aquilo que recriam é só futuro: o pó, a lama, as pedras, o corpo todo, onde o prazer está nas manhãs e nas tardes, antes de dormir.
Nestes dias, quanto tempo estivemos em silêncio a olhar o que o passado nos trouxe, para prepararmos o futuro?
Pais, filhos e netos estiveram o resto do tempo que lhes sobrava a conviver com o silêncio. Eram uma família — uma pequena família à espera do futuro.
Contudo, a partir de agora tudo muda. Tudo tem de mudar. Cabe-nos a responsabilidade de não deixar que se confundam oportunistas iluminados, arrivistas incompetentes, novas roupagens de velhos alfaiates, com necessidades, favores e interesses.
Está a chegar o fim da Ditadura do Tempo. Aproxima-se o tempo de mudar para os valores, para os princípios, para o exercício efetivo da cidadania, para a ação preocupada, comprometida e solidária.
O futuro não tem “foi quase” nem “foi por um pouco” — tem pessoas.
O futuro não tem desiludidos nem interesseiros — tem confiança.
O futuro não tem certezas absolutas nem convencimentos inabaláveis — tem convicções.
Costuma dizer-se que se a vida é uma escola, os anos são professores, pois a cada um ensinam as devidas lições. O saber acumulado no dia-a-dia, fruto de experiências mais ou menos ricas ou de meras vivências, atua como uma espécie de cartilha indispensável ao conhecimento do mundo. Constitui-se, por assim dizer, em escudo que nos protege contra golpes futuros, sendo a velhice, aliás, o momento certo do ajuste de contas.
Pais, filhos e netos. Há um fio invisível que une os seus sorrisos. Entre passado e futuro, está outra santíssima trindade: pai, filho e espírito inocente. Ali, entre sorrisos e espera, está o tempo: até já, até logo ou até sempre.
A solidão obrigou-os a equacionar o futuro e a conversar com o passado. Foram, por vezes, conquistadores de futuro, aventureiros emprestados aos passados dos outros, missionários de tradições irrepetíveis e até peregrinos das pequenas e grandes solidões sempre na Demanda da Cadeira da Alegria que será ocupada amanhã por quem é futuro.
E até amanhã é muito tempo.
É verdade, sempre foi o tempo o nosso principal problema, mas começamos a resolvê-lo hoje.
É nossa obrigação.