Alfredo da Silva Correia
EVOLUÇÃO SOCIO-ECONÓMICA PRÓXIMA - PREVISÕES/PREPAREMO-NOS
Vamos, sem dúvida alguma, ser confrontados com alterações profundas no nosso modo de vida face às enormes dificuldades com que viremos a ser confrontados com a Covid-19, até porque tínhamos o crescimento da nossa economia muito fundamentado no sector do turismo e nas exportações. Sendo assim, qual a previsão possível para a evolução do nosso modo de vida económico futuro?
Não sendo uma problemática fácil de prever, não tenho muitas dúvidas que iremos ser confrontados, em termos do país, com uma quebra do poder de compra, nos próximos tempos, pelo que entendo útil que se tenha consciência de como tal vai acontecer.
Todos vamos apreciando, uns mais do que outros, que efectivamente alguns dos nossos sectores de actividade económica estão em queda significativa no âmbito da respectiva produção, sendo poucos os que resistem sem queda e muito menos aqueles que sentem algum crescimento. Acontece que o que sentimos na matéria em apreço no nosso país, também está a ocorrer por esse mundo fora, sobretudo nos povos mais desenvolvidos.
Sendo assim, parece-me óbvio, que para além do que nos está a acontecer nos sectores do turismo e de animação, também as empresas que exportavam estarão a sentir cada vez maiores dificuldades em conseguir exportar, pois os outros povos estando também com dificuldades vão procurar defender-se e consumir sobretudo o que produzem, evitando aquisições externas, tornando a economia mais local do que global.
Esta afirmação começa já a ter consequências nas últimas estatísticas publicadas quanto ao peso das nossas exportações no nosso PIB ao terem este ano, na respectiva percentagem, já uma queda previsível superior a 10%. Desta forma, como a crise é global a nossa situação não deixará de sofrer, a evolução que se vier a verificar a nível mundial.
Acontece que a humanidade atingiu o nível de vida de que hoje ainda se beneficia com o processo de globalização e desta resultaram grandes concentrações de habitantes, gerando cidades de muitos milhões e mesmo em grandes grupos empresariais. Ora, estando tal processo a sofrer com o problema da pandemia e com a verificação de uma muito maior consciencialização quanto ao problema das alterações climáticas, parece-me lógico que, ainda que temporariamente, se instale o principio de inversão das dinâmicas que resultaram do processo de globalização.
Assim, parece-me previsível que a prazo se acabe por se instalar uma cultura que conduza a que se distribuam as populações de uma forma muito mais dispersa, verificando-se uma certa tendência das populações se transferirem dos grandes centros urbanos para os médios e mesmo mais pequenos.
Parece-me uma tendência lógica, até como reacção ao facto de se sentir dificuldades em se fazer a vida nos grandes centros urbanos, com o desemprego a crescer fortemente, por não se poder contar com os sectores do turismo, de animação e com o das exportações, para além de que o teletrabalho é cada vez mais uma realidade presente. Por outro lado as populações que caírem no desemprego, vão começar por tentar conseguir outro emprego no local onde vivem, mas vão encontrar muitas dificuldades em o conseguir num ambiente de queda acentuada do PIB, como nos está a acontecer.
Alguns não deixarão de tentar, eles próprias, de conseguirem inovar numa actividade que seja aceite pela comunidade e fazer a vida dessa forma. Mas se o não conseguirem vão acabar por compreender que conseguem minimizar as respectivas dificuldades em centros populacionais mais pequenos, quantas vezes até procurando produzir produtos alimentares na própria terra para seu próprio sustento, ou mesmo para venda, quando tal lhe for possível. Será uma tentativa mas é verdade que é uma actividade em que se perdeu muita cultura produtiva durante as últimas décadas, o que vai exigir um enorme esforço para a retomar.
Se esta dinâmica se vier a verificar, pelo menos no nosso país, vai acabar por se minimizar o grande problema de apenas em 10% do nosso território, o litoral, viverem cerca de 90% dos habitantes do país, passando a haver uma melhor distribuição das populações por todo o território nacional, o que se pode tornar construtivo.
Sem dúvida que esta dinâmica não vai deixar de criar sérios problemas na qualidade de vida de muitos dos portuguesas, mas a verdadeira causa de tal não é a mesma, mas sim os problemas levantados pela COVID-19 e as alterações climáticas que podem estar a conduzir a humanidade para uma espécie de autodestruição.
Não havendo uma evolução positiva nos problemas que estão a criar todas estas apreensões, ou seja se o ritmo da mobilidade não voltar ao nível de antes da pandemia, tão rápido quanto as necessidades de muitos exigem, vamos ser confrontados com o problema de como substituir as actividades que vão forçosamente sofrer redução, ou mesmo serem eliminadas, do respetivo contributo para o nosso PIB. Se não as conseguirmos substituir, então seremos mesmo confrontados com grandes dificuldades em muitos fazerem as respectivas vidas económicas, com consequências sociais bem nefastas, até porque o Estado, altamente endividado e com queda de receitas fiscais terá dificuldades crescentes no respectivo apoio.
Uma das soluções seria a das actividades que resistam conseguirem reconverter-se e crescerem, a fim de que possam satisfazer novas necessidades, quer de nacionais, quer exportando. A outra seria a de surgirem novos empreendedores que inovem gerando e satisfazendo também novas necessidades, criando desta forma postos de trabalho. Para alcançarmos este objetivo será necessário que o Estado facilite muito a vida ao empreendedor, motivando-o e o mesmo não seja alvo de ataques injustos, como se sente, acontece muitas vezes, a partir de incapazes.
De qualquer forma como qualquer destas soluções não é de fácil concretização nas atuais envolventes, não obstante tudo deva ser feito para que a sua concretização seja possível, então o modelo atrás referido de uma maior distribuição das populações em termos territoriais, acabará por acontecer, ou seja verificar-se-á a transferência de muitos habitantes dos grandes centros para os pequenos.
Há quem acredite que a bazuca nos vai resolver todos os problemas mas eu não acredito que os resolva todos, não só porque a máquina do Estado não está preparada para realizações racionais mas sobretudo, porque os cerca de 60.000 milhões da mesma a apoiar durante quase 10 anos, não tem grande expressão, se consideramos as reais necessidades do país. Tenhamos em consideração que entre 2008 e 2010 contámos com 78.000 milhões recebidos de empréstimo, quando a crise actual é muito mais estrutural.
Reflexões. Vamos ver para onde iremos neste novo contexto socioeconómico com que estamos a ser confrontados, com os problemas da Covid-19 e da deterioração das condições climáticas.