Edição nº 1686 - 14 de abril de 2021

Elsa Ligeiro
LENDAS E ROMARIAS DA BEIRA BAIXA

Uma das maiores riquezas da Beira Baixa são as suas Romarias.
Segundo a lista de Jaime Lopes Dias, na sua Etnografia da Beira, as Romarias são 79, só no distrito de Castelo Branco; e cada uma delas com a sua singularidade.
Desde a Nossa Senhora dos Prazeres (em Cebolais de Cima) à Senhora do Fastio (no Barbaído); da Nossa Senhora dos Remédios (no Tortosendo); passando pela famosa Santa Luzia, no Castelejo; são inúmeras as Santas e Senhoras que com as suas Ermidas e Capelinhas recebem oferendas e preces dos crentes nos seus milagres e povoam, nesta época, fora da pandemia, o território da Beira Baixa.
No concelho de Idanha-a-Nova emerge essa figura que se estende pela raia e a campina, a Senhora do Almortão, que Zeca Afonso e Amália cantaram; Senhora que convoca a presença de romeiros dos dois lados da fronteira; que nesta altura, sem confinamentos ou Estados de Emergência, se uniriam numa devoção à Santa portuguesa.
No concelho de Castelo Branco a Senhora de Mércules, que António Roxo descreve, em 1890, na sua Monografia de Castelo Branco, como utilidade pública: “À Senhora de Mércoles se socorre o povo, quando a excessiva estiagem prejudica a agricultura. Vai buscá-la em procissão para a igreja matriz, onde lhe faz preces… se chove, clamam todos que foi a Santa que obrou o milagre, mas se não chove… a fé não sofre alteração”.
A Senhora de Mércules é ainda o motivo do feriado municipal albicastrense, concentrando na Senhora as bênçãos de anos férteis e o alívio no pagamento das promessas.
Na Ermida, almoça-se feijão frade e sardinha assada, e os ajuntamentos familiares dispersam-se pelo recinto após a missa e a procissão.
Na Lousa, a Capela de Santa Bárbara reúne a aldeia toda na segunda-feira de Páscoa, para a procissão e a partilha do chouriço, que com o pão e o vinho, reúne os lousenses dispersos pelo país, mas também os amigos e convidados, num festim simples e fraterno.
No concelho do Fundão, a Romaria do Alcaide é suportada por uma Lenda belíssima com reminiscências na tragédia do Rei Édipo.
Macário, que por uma circunstância infeliz mata o pai, será condenado pelo povo a um enterramento até à morte, mas só até à cintura, o que lhe permitirá continuar vivo tal qual uma planta ou uma árvore.
E a receber saudações e perguntas de quem passa: “Macário, que comes tu? – “O que a terra dá”, será a resposta.
E assim durante sete anos, até sucumbir, naturalmente.
Há em todas as lendas de mártires ou santas a quem se dedicam Capelas com Alpendre em locais naturais e belos na Beira Baixa uma proposta ao onírico e ao fantástico que deitam por terra qualquer pergunta ou racionalidade.
Faz parte do segredo da relação fiel e íntima que cada crente estabelece com a sua santa ou o seu santo de eleição.
E em questões de fé, o melhor será deixar-nos maravilhar com a beleza das Capelas e aproveitar a luxúria natural das Ermidas para Encontros de partilha do farnel e de histórias de família que passam de geração em geração; construindo, ano após ano, uma espécie de secreta confraria com que todos renovamos os laços comunitários.
Mas, claro, só o faremos no próximo ano. Quando todos nos livrar-nos da atual devastadora pandemia; com a preciosa ajuda de São Macário, da Senhora de Mércules ou de Santa Bárbara.

14/04/2021
 

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