Edição nº 1689 - 5 de maio de 2021

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

A FESTA DOS ÓSCARES DE HOLLYWOOD celebrou-se na semana passada. Segundo ano com menos brilho , sem a multidão de estrelas que dão o colorido ao evento e garantem audiências. Com um ano de cinemas fechados, há ainda esse óbice. Como se pode torcer por um ou outro dos filmes nomeados se ainda não tivemos oportunidade de os ver? Sem contar com os que já estão disponíveis nas plataformas de streaming como a Netflix ou a HBO, cada vez mais também elas produtoras de filmes com qualidade e características que os fazem potenciais vencedores da estatueta. Mesmo sem ver, apenas pela informação que circulava nos media, houve um título que se tornou favorito de meio mundo a quem o júri entendeu não frustrar as expetativas atribuindo-lhe os dois principais Óscares, de Melhor Filme, de Melhor Realizador e ainda de Melhor Intérprete Feminina. Nomadland, sobreviver na América, é um filme sobre o nomadismo como filosofia de vida (que é bem mais praticada do que se julga, como ainda há poucos dias televisão mostrava em reportagem sobre os nómadas digitais que a Madeira atrai) ou por necessidade, numa América em crise e cada vez mais desigual. A personagem central é uma mulher a que Frances McDormand deu vida de forma magistral, uma atriz que recebe pela terceira vez o Óscar e que muitos lembram também de Fargo e de Três Cartazes à Beira da Estrada. Definitivamente uma enorme atriz. Com Nomadland, é a segunda vez na história que uma mulher vence a categoria de Melhor Realizador.  Chloé Zhao é uma jovem realizadora chinesa de 39 anos, radicada nos Estados Unidos. Qualquer país do mundo que tivesse algum compatriota nomeado e vencedor dos maiores prémios do cinema, teria ele os holofotes apontados e com naturais manifestações de satisfação e orgulho. Mas a China não é qualquer país do mundo. Nem sequer tem qualquer pudor em se apresentar como deficitária em questões democráticas. Por isso, pela primeira vez, a festa do cinema não pôde ser vista pelos chineses. Porque um país com o poderio da China tinha receio das palavras críticas que pudesse proclamar Chloé Zhao, chinesa a viver numa democracia onde existe liberdade de expressão. De facto, o poder da cultura é enorme e é capaz de fazer tremer uma super potência pouco democrática. O Expresso de 23 de abril apresentava na capa o resultado de uma sondagem sobre a perceção dos Portugueses em relação à democracia. Pelo título, anunciando que apenas 10 por cento acreditam viver em democracia plena, quase que apetece perguntar se não teria havido engano no país avaliado, se não seria a China. Mas vai-se ao desenvolvimento do tema, no interior do jornal, e aí descobrimos que afinal são 57 por cento, a maioria portanto, que acreditam viver numa democracia.  Plena, sem mácula de defeito que não sei se existirá em algum lugar, ou com alguns pequenos defeitos, mas que é sempre uma democracia. Sem querer criticar um jornal que se pretende de referência, não posso deixar de considerar que num país onde muitos não passam da leitura da primeira página dos jornais nos escaparates ou na Internet, este tipo de informação é o adubo para populismos de extrema direita.

05/05/2021
 

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