Edição nº 1695 - 16 de junho de 2021

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

O ESTUDO PUBLICADO ESTA SEMANA, Os valores dos Portugueses, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian e realizado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, integra-se num estudo de âmbito europeu que engloba 34 países. Pretende fazer o retrato de um país, e esse retrato é, no mínimo, preocupante para Portugal. O resultado do estudo tem de preocupar os governantes, as instituições políticas, os democratas, porque mostra que só 37 por cento dos Portugueses rejeitariam ser governados por um governo autoritário, autocrático, que prescindisse do parlamento ou de ser escrutinado em eleições. São números que ainda há bem poucos anos seriam difíceis de acreditar como verdadeiros e a verdade é que desde 1999, ano do primeiro estudo sobre os valores democráticos dos europeus que o número de Portugueses que aceitariam um governo assim tem vindo a aumentar de forma significativa. No cômputo geral e no que amor à democracia diz respeito demonstrado na crueza dos números do estudo, Portugal integra o grupo dos países do leste europeu, muito longe de outros como França, Reino Unido, Alemanha e todos os países nórdicos onde a rejeição de governo autocrata é sempre acima dos 60 por cento ou mesmo a ultrapassar os 80. Porque é que isto acontece? Porque o 25 de Abril já vai fazer 50 anos e por isso a maioria dos Portugueses, jovens ou de meia idade, não fazem ideia do que era viver num regime autoritário onde a opinião de cada um era policiada e nem fazem ideia de que, se na altura já existissem as redes sociais de agora (na época eram as tertúlias nos cafés), seria impensável a liberdade de expressão que tantas vezes desliza para o insulto que torna o meio um espaço pouco saudável de ser frequentado. Mas também pode explicar-se pela errado conceito de democracia de muito cidadão, se tivermos em conta que apesar do seu desejo de ser governado com uma liderança autoritária, parece contraditório que nove em cada 10 dos Portugueses inquiridos defendam a bondade de viver em democracia. Mas a principal razão para o número, 37 por cento, com que abrimos esta reflexão, será mais provável que esteja na perceção de corrupção que corrói a confiança nos políticos que, alternando entre si, nos governam desde a implantação do regime democrático. É bem sabido que a classe política e os partidos estão num dos níveis de confiança mais baixos de há muitos anos, conforme se pode constatar na hostilidade que extravasa nas redes sociais ou nas conversas de café. Por isso não se estranha a cada vez menor militância nos partidos políticos tradicionais e a adesão a grupos políticos que aproveitando o desencanto de tantos destes desiludidos do regime, se assumem assim como antirregime e contra a constituição democrática que nos rege. Por tudo isto é bom que os 50 anos da democracia sejam celebrados de forma condigna. E para planear e organizar as atividades, não tenho muitas dúvidas de que Pedro Adão e Silva é mesmo a melhor escolha.

16/06/2021
 

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