João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
COMO SE ESPERAVA, A CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA aprovou na passada semana, em Fátima, a constituição de uma comissão independente para o estudo sobre os abusos sexuais que poderão ter acontecido durante décadas dentro da Instituição. E quando se fala de abusos sexuais, fala-se maioritariamente de abusos sofridos por menores, os mais desprotegidos. Em pleno furacão de escândalos que atravessaram, entre outras, as Igrejas alemã, espanhola e francesa, a Igreja Portuguesa foi sempre desvalorizando de alguma forma o problema entre nós, apontando apenas para alguns, poucos casos. Mesmo que não tenha, acreditamos, a dimensão do que aconteceu em França com um inacreditável número de mais de trezentas mil vítimas, abusadas por mais de dois mil padres, durante várias décadas de indiferença, é importante que se faça este estudo pois como dizia D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa, nem que fosse só um caso, seria grave. Mas o trabalho a desenvolver por esta comissão, que irá recolher e analisar os dados de 21 dioceses não vai ser nada fácil. Como dizia ainda o bispo auxiliar de Lisboa, “é preciso criar um ambiente de muita confiança para que uma pessoa que tenha vivido o flagelo de um abuso sexual tenha confiança para poder abrir o seu coração e partilhar essa ferida profunda na sua vida, principalmente quando estamos a falar de alguém que viveu isso na adolescência e agora está casado e tem filhos”. Só num quadro de completa segurança as vítimas de abusos sofridos durante a infância e adolescência, passados muitos anos serão capazes de denunciar a situação traumática vivida sem voltar a correr o risco de voltar a ser vítima, agora das circunstâncias da sua denúncia. Um processo difícil e doloroso mas essencial para que a Igreja possa sarar suas feridas e não volte a ser manchada pela ignomínia de alguns, acreditamos que poucos, dos seus membros. E que a coragem, bondade e amor pelo próximo e em particular pelas vítimas, do Papa Francisco leve a bom porto esta sua missão.
E OS SINAIS DE ALERTA DE CHEGADA DA QUINTA VAGA DO COVID-19 aí estão a azucrinar as nossas vidas, que já estavam por muitos a ser vividas quase na forma pré-COVID (no triste jogo de Portugal contra a Sérvia, na Luz, que reuniu mais de cinquenta mil espetadores, eram claramente minoritários os utilizadores de máscaras). As autoridades sanitárias e os especialistas voltam a falar de restrições, de limites de lotação de espaços públicos e de confinamentos, para fazer diminuir o número de infetados e não sobrecarregar o SNS. E salvar as festividades do Natal, que todos querem viver em total liberdade de movimentos e em família. Falta agora a decisão política, que não será fácil, até pelo ambiente pré eleitoral que se vive. Vai ser mais duro porque psicologicamente agora serão mais difíceis de aceitar as restrições e porque acontece num momento em que uma grande parte das empresas estava a recuperar da crise. Agora, a melhor maneira de não voltarmos a ter um confinamento prolongado, é a de acelerar a vacinação e não esquecer as regras básicas de segurança sanitária. Para bem de todos.