Valter Lemos
A BESTA RUSSA
A invasão da Ucrânia pelo exército russo, feita sem aviso prévio e que as autoridades daquele país negaram até à sua consumação, surpreendeu a Europa. É verdade que os norte-americanos avisaram algumas semanas antes sobre a intenção de Putin, mas este negou até ao último dia.
Após a surpresa inicial dos europeus com a entrada das tropas russas no território ucraniano, todos esperavam uma ocupação rápida do país. Mas, afinal, mais de um mês depois, a maior parte da Ucrânia não está ocupada, as principais cidades continuam sob o controle dos ucranianos e o exército russo recuou em algumas frentes e parece ter desistido de ocupar a capital, Kiev.
Mas este mês de guerra foi mais do que suficiente para a besta russa se mostrar ao mundo. Mais de 4 milhões de refugiados de guerra, a destruição total de algumas cidades e um horrível e escandaloso número de mortos civis. Em algumas cidades todos os edifícios, sem exceção, incluindo escolas, hospitais e blocos residenciais foram bombardeados. Não só os edifícios militares e políticos. Todos! Em Irpin, Mariupol e outras cidades não há praticamente um edifício em pé. Todos os edifícios residenciais estão em ruínas! Em Mariupol o exército russo bombardeia constantemente a cidade e não permite sequer a abertura de corredores humanitários para ajuda da Cruz Vermelha e outras organizações similares.
A retirada dos russos da zona de Kiev pôs à vista de todos atrocidades inimagináveis. Cadáveres de civis espalhados pelas ruas, alguns com as mãos atadas e sacos na cabeça, corpos de mulheres violadas e mortas, valas comuns, civis baleados e executados na rua e dentro dos seus carros. Uma completa barbárie.
Esta barbaridade só encontra semelhanças na Europa com a horrível guerra nos balcãs e com as atrocidades do nazismo. O Z dos tanques russos assemelha-se cada vez mais à suástica dos tanques alemães, Putin parece cheirar cada vez mais a Hitler e o povo russo parece mostrar também a submissão e a anestesia do povo alemão nos anos 30.
Aprofunda-se cada vez mais a semelhança entre a besta russa e a besta nazi.
Outra das semelhanças é o uso sistemático da mentira. O regime russo mentiu sempre a todo o mundo sobre a suas intenções, mente constantemente sobre os alvos dos bombardeamentos, mente sobre as negociações de paz. Mente permanentemente ao seu próprio povo, nega o acesso à informação, persegue jornalistas e órgãos de informação e até qualquer cidadão que chame “guerra” à guerra da Ucrânia.
Putin e o seu regime trouxeram a barbárie de regresso à Europa, fazendo recuar a civilização e a condição humana, a níveis que há pouco tempo eram impensáveis.
Percebe-se bem que, apesar da bestialidade colocada nos procedimentos russos, a invasão não correu como Putin esperava. Qualquer que venha a ser o resultado desta guerra parece certo que a Rússia deixará de incluir por muito tempo o sistema político, económico e financeiro internacional. Mas, para além disso, dificilmente algum país confiará na Rússia, independentemente do que for dito e até dos acordos ou tratados que ela subscreva. Ninguém esquecerá que a Rússia tinha um tratado com a Ucrânia no qual garantia a independência e integridade desta em troca da entrega do material nuclear militar, o qual teve lugar na totalidade.
A Rússia está prestes a tornar-se um pária no sistema internacional, com gravíssimas consequências económicas e sociais para o povo russo e aumentando enormemente a insegurança própria e alheia.
Mas deve dizer-se que ninguém fez mais pela União Europeia e pela NATO, nos últimos tempos, do que Putin e o seu regime. Ao contrário dos desejos de Putin a NATO reforçou a sua coesão bem como o seu dispositivo na Europa e especificamente nas fronteiras com a Rússia e a União Europeia, não só reforçou a coesão, como alargou significativamente o seu investimento na defesa.
Mas, face ao que passa é preciso reforçar o apoio à Ucrânia e continuar a noticiar e a mostrar o que se está a passar. Para bem da condição e dignidade humanas a besta russa não pode passar.