João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
A NOVELA TRUMP podemos classificá-la como comédia dramática. Comédia pelo protagonista, ridícula personagem de opereta. Dramática, porque as razões que levaram um juiz federal a autorizar o FBI, numa operação inédita no país, a vascular a mansão de Trump na Florida são muito sérias, porque estava em causa a segurança dos EUA e de outros países ocidentais. Na célebre mansão de 126 quartos que serve também como clube privado pago a peso de ouro, Trump tinha documentos retirados da Casa Branca quando perdeu as eleições, documentos classificados com a máxima categoria de reserva e acesso muito restrito, nomeadamente documentos relacionados com armamento nuclear. Todos estarão lembrados daquilo que fez Hillary Clinton perder as eleições, os Republicanos acusavam-na de usar o seu e-mail pessoal para trocar correspondência oficial que nem de longe nem de perto configurava a categoria de documentos desviados pelo ex-Presidente. Mas o partido Republicano está completamente refém de Trump, numa perigosa deriva populista com muitos traços de extrema direita fascista e a parecer viver numa realidade paralela. O comportamento de um homem desqualificado, perigoso e sem escrúpulos que tem possibilidade de voltar a habitar a Casa Branca, apesar das dezenas de processos judiciais em que está acusado de vários crimes, mesmo assim não afasta os seus fiéis seguidores, anestesiados por uma eficaz máquina de propaganda que usa principalmente as redes sociais e a Fox News, o canal de noticias de maior audiência. A acreditar nas sondagens (custa a acreditar) haverá setenta por cento dos republicanos e quarenta por cento dos americanos a defender que ele é inocente e que está a ser vítima de perseguição política por parte dos de-mocratas. Não tenho palavras para qualificar esta figura de opereta que divide profundamente a América, que a deixa mesma em várias situações à beira de uma guerra civil, que alimenta o ódio contra todos aqueles que o criticam, pondo em risco a segurança e a vida das pessoas, a começar pelos seus próprios fanáticos seguidores. São tempos difíceis para as democracias.
NA PASSADA SEXTA, 19 de agosto, comemorou-se o Dia Mundial da Fotografia, em memória de Louis Daguerre que neste dia, no ano de 1837, inventou o daguerreótipo, o primeiro processo fotográfico a ser comercializado. Sobre a importância da fotografia, enquanto arte e suporte de memória não são necessárias palavras. Uma imagem, aquele instantâneo de vida que ficará para sempre fixado numa fotografia, vale mais que mil palavras. E é esse o poder da fotografia, em particular do fotojornalismo. E temos de homenagear os muitos repórteres de imagem, que por esse mundo fora, nos trazem os momentos dramáticos ou de felicidade fixados numa imagem. Tantas vezes pondo em risco a sua própria vida, como ainda agora na Ucrânia onde, em seis meses de guerra, já morreram um bom punhado de fotojornalistas. O 25 de abril não seria o mesmo no nosso imaginário, se não existissem as imagens da revolução que nos deram Alfredo Cunha, Eduardo Gageiro e outros. Foram as dramáticas fotografias da guerra do Vietnam, que alimentaram a contestação à guerra. Foi a famosa fotografia de Che Guevara por Alberto Korda, em 1960, que ajudou a criar a imagem romântica e mítica de um revolucionário. Uma foto que habitou as paredes do quarto de muitos jovens por esse Mundo fora. A todos estes homens e mulheres, o nosso obrigado.