João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
A SEMANA PASSADA viveu-se em Portugal, principalmente no Interior, uma situação muito complicada. Uma onda de calor nunca vista com tal intensidade e duração que obrigou o Governo a colocar todo o território em contingência, que implicou a não utilização de máquinas agrícolas e a alteração do local de eventos que fariam reunir muitos milhares de pessoas em espaços onde o risco de incêndios seria elevado. Foi todo um conjunto de fatores que poderiam conduzir à tempestade perfeita. A temperaturas elevadíssimas e noites tropicais, juntam-se a seca extrema e uma estrutura fundiária complicada e anacrónica. Os alertas dos serviços de meteorologia e da Direção-Geral da Saúde, toda uma campanha do Governo, com uma participação ativa e diária de António Costa que não se cansou de lembrar da importância do comportamento de cada um na prevenção dos incêndios. Mesmo reconhecendo que há hoje uma muito maior consciência das comunidades sobre o papel de cada um na prevenção de incêndios, tudo não foi suficiente para evitar o inferno das chamas que voltaram a lembrar os dramas que se viveram em 2017. De novo estamos com o fogo, 98 por cento das vezes desencadeado pela mão humana, que está a consumir muitos milhares de hectares de floresta, que está a destruir casas e terrenos de cultura, sustento das populações rurais. Os críticos dirão que não se aprendeu com o desastre de Pedrógão, mas a verdade é que apesar das condições tão adversas como estas que vivemos, conseguiu-se fazer um controle de danos. Ardeu floresta mas não se cometeram os erros anteriores na defesa das populações. Faltou avançar com maior determinação na gestão da floresta, na concretização do cadastro, num conjunto de reformas decisivas para um futuro que é já hoje, mesmo que tantos especialistas considerem que seja esta uma tarefa de geração. E infelizmente este é um problema que não afeta só Portugal. Que não afeta só o Sul da Europa. Para além das chamas que lavram hoje em Espanha e em França, por exemplo, lembra-se também a onda de calor que depois de ter estacionado durante uma semana na Península Ibérica, está agora a sufocar os britânicos com os nunca antes sentidos 40 graus e a obrigar as autoridades a decretar o alerta vermelho, a fechar escolas, aeroportos e linhas de comboio, a acon-selhar o trabalho à distância, a apelar a que a população se mantenha recolhida em casa, sabendo-se que estas ondas de calor prolongadas causam um aumento considerável de mortos, em especial dos mais velhos. Que em Portugal as autoridades apontam para mais de 500 mortes não expetáveis neste período, com a agravante das condições de habitação e climatização de significativa parte dos Portugueses não serem as mais adequadas para enfrentar estas condições climatéricas extremas. Que a generalidade dos cientistas acreditam virem a ser cada vez mais frequentes, em consequência das mudanças climáticas. Quando tantos já consideram termos entrado numa situação de não retorno, termino com o apelo dramático de António Guterres, por estes dias numa conferência realizada na Alemanha. Teremos apenas duas opções para enfrentar o problema, ou uma coope-ração coletiva ou o suicídio coletivo.