Edição nº 1771 - 14 de dezembro de 2022

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

DESDE HÁ MAIS DE DOIS MESES que o Irão tem sido notícia diária nos nossos meios de comunicação, desde que Mahsa Amini, 22 anos, foi assassinada pela polícia da moralidade, presa na via pública por pretensamente ter mal colocado o véu, que deixava solto algum do seu cabelo. Foi presa e sujeita a violência tal, que acabou por falecer tornando-se desde então o ícone da luta das mulheres iranianas, contra as regras absurdas impostas pela ditadura do Aiatolá Ali Khamenei que as menorizam. Tendo o Irão uma população maioritariamente jovem, uma média de idade de pouco mais de trinta anos, e sendo governado por religiosos idosos que parecem viver num outro mundo, é natural que os jovens cada vez mais se não sintam representados pelos seus governantes. O resultado são as manifestações que já vão bem mais além do que os primeiros protestos contra o uso obrigatório dos véus. Agora já vão mais longe, querem ser parte ativa da sociedade iraniana, são jovens cultas e instruídas que enfrentam há mais de dois meses, diariamente, com grande determinação e coragem a violência das forças policiais de que já resultaram mais de 400 mortes, incluindo dezenas de crianças. A resposta brutal do regime também passa por condenação à morte por enforcamento de manifestantes, como forma de amedrontar os contestatários, parece que sem causar efeito num movimento que como as águas de um rio que transborda pelas margens, já nada o faz parar. Às mulheres, em especial jovens, juntaram-se também muitos homens, também eles jovens, que não querem viver num país de regime autocrático regido pelas regras religiosas que resultam da leitura mais restritiva e ortodoxa dos textos sagrados. A juntar a esta contestação, a ditadura teocrática enfrentou também uma greve geral de três dias que mostrou boa adesão em Teerão e nas principais cidades, um bom barómetro da vontade de mudança. Entretanto os refeitórios universitários que eram separados por sexo, por estes dias são já mistos. É pouco? Pode ser, mas é com pequenos passos como este que se fazem revoluções.

MAS NÃO É SÓ NO IRÃO que a vontade de democracia está em maré alta. Como vírus que se propaga, chegou também a Pequim. O que começou como contestação à política Covid Zero, que deixou de quarentena cidades de milhões de habitantes, extravasou e agora já é também a luta pela democracia, contra a falta de liberdade. Sabemos como a palavra é essencial, e os milhões de chineses na falta de a poderem utilizar em toda a sua plenitude, manifestam-se com folhas A4 em branco. Como têm feito russos, críticos da guerra na Ucrânia e da política de Putin, em manifestações naturalmente reprimidas. Uma folha em branco tem um significado e uma força que assusta as tiranias. Uma folha em branco tem mais força que muitas palavras.

NÃO QUERO DEIXAR DE LEMBRAR aqui a figura de uma mulher, que não sendo Albicastrense de nascimento, vivenciou a cidade que amou como sendo sua e onde deixou muitas memórias e amigos. Maria Manuel Viana, escritora, tradutora e professora, uma mulher de esquerda, defensora de causas sociais e solidárias, morreu esta semana. Vai perdurar através da sua obra literária e na memória dos muitos amigos que aqui deixou. À família enlutada, a título pessoal e em nome da Gazeta do Interior, as nossas condolências.

14/12/2022
 

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