INICIATIVA PROMOVIDA POR PLATAFORMA DE SINDICATOS
Professores manifestam-se em Castelo Branco
A Praça do Município, em frente à Câmara de Castelo Branco, recebeu, esta segunda-feira, 23 de janeiro, a manifestação de professores realizada no âmbito da iniciativa que está a ser dinamizada por oito organizações sindicais, nas 18 capitais de distrito de Portugal Continental. De referir, que para além da capital de Distrito, Castelo Branco, no mesmo dia também se realizaram concentrações de professores na Covilhã, no Fundão e na Sertã.
Ana Maria Leitão, da FENPROF - Federação Nacional dos Professores, sobre os motivos da manifestação afirma que esta se realiza por “problemas que não são de hoje. São problemas que se arrastam e daí esta ser mais uma caminhada na luta da parte da FENPROF e dos outros sindicatos que estão unidos numa plataforma”.
Ana Maria Leitão realça que “os problemas são muitos”, apontando que “têm a ver com a precariedade” e avança que “os mais jovens que não conseguem estabilidade na profissão, porque vinculam com 15 e 20 anos de serviço, o que é inadmissível e não se passa em mais nenhuma outra empresa do nosso país”.
A isto acrescenta os professores que “estão na carreira e que o tempo não está a ser contado para tempos de carreira. E são seis anos, seis meses e 23 dias, que foram trabalhados, que foram descontados e que não nos contabilizam para efeitos de carreira”.
Outro problema passa pelos “acessos ao 5.º e 7. º escalões, numa carreira que são de 10 escalões, que impedem cerca de cinco mil professores de aceder ao escalão seguinte, porque apesar de serem excelentes e muito bons na sua classificação, depois de serem avaliados, há quotas que não permitem que eles progridam parta o escalão seguinte. Portanto, isto é criar um entrave na progressão da carreira que não faz sentido nenhum, porque os professores efetivamente têm classificações que os consideram excelentes e muito bons”.
Ana Maria Leitão realça também “a questão da aposentação. Achamos que é vergonhoso um país obrigar os seus professores a andarem 43 anos a dar aulas, a trabalhar nas escolas, quando nós sabemos a velocidade a que mudam as sociedades e os jovens. Isto não se compagina com uma profissão envelhecida, desmotivada pelas questões da carreira, mas também sem energia para acompanhar os avanços tecnológicos e até em termos de atitudes dos nossos alunos e hoje os professores para se aposentarem têm de ter 66 anos e e quatro meses e muitos deles vão com 43 anos e 44 de serviço, o que não é compaginável com uma profissão da exigência que é de ser professor e então nós achamos que este é o tempo de ser tempo dos professores e de começar a resolver os problemas que nos afetam”.
A tudo isto junta ainda que “este ano também fomos surpreendidos com uma legislação nova da mobilidade por doença que obrigou muitos professores a fazerem centenas de quilómetros, apesar da sua condição atestada por médicos, por atestados multiusos que lhes garantiam, à partida, uma deslocação para mais perto da sua residência, ou do local onde fazem os tratamentos. Mas a legislação foi alterada de tal maneira, que ligaram a deslocação ao seu grupo de recrutamento e impediu muitos professores de se aproximarem de casa e muitos deles já faleceram no decorrer deste ano letivo, o que é lamentável”.
O que também não é ignorado é “o novo modelo de recrutamento dos professores, que o Ministério nos apresentou, que é de todo inaceitável para aquilo que os professores exigem, que é a contabilização do seu tempo de serviço, a graduação profissional, que deve ser o fator imprescindível e único da colocação de professores nas escolas. Portanto este modelo de recrutamento não serve os professores, porque os deixa à mercê de um conselho de diretores que depois fará a sua afetação no âmbito do quadro de zona pedagógica”.
Ana Maria Leitão confirma, por outro lado, que “há situação de falta de professores nas escolas do Distrito de Castelo Branco, nomeadamente em alguns grupos e essa situação vai agravar-se, porque muitos professores apesar das condições de aposentação serem estas, a idade e o tempo de serviço, muitos estão nestas condições e vão aposentar-se. Portanto é um problema que no decorrer do ano se vai agravando”. Sobre esta matéria frisa que “a questão da falta de professores é uma questão que não é de agora, mas que nunca ninguém quis resolver e resolve-se também tornando a profissão atrativa, porque hoje os nossos jovens nas escolas, quando perguntamos o que é que querem fazer no futuro, nunca passa por ser professor, porque eles sabem aquilo que os professores passam nas turmas onde eles estão inseridos, sabem o desgaste que é”, e conclui que “se as coisas ainda vão correndo bem, é graças ao empenho dos professores que, apesar de tudo, vêm nos seus alunos os seus filhos e não querem prestar um mau serviço aos alunos, ao País, à escola pública”.
António Tavares