NO MUSEU FRANCISCO TAVARES PROENÇA JÚNIOR
Tarde Azul, o Universo Amoroso de Julio/Saúl Dias
O Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco, tem patente, a partir do próximo sábado, 25 de novembro, a exposição Tarde Azul, o Universo Amoroso de Julio/Saúl Dias. A mostra, que pode ser visitada até 7 de abril de 2024 é organizada pela Câmara de Castelo Branco e pela Galeria Julio Centro de Memória da Câmara de Vila do Conde, que detém o espólio do artista.
A exposição é comissariada pela crítica de arte e poeta Maria João Fernandes e pelo poeta Gonçalo Salvado, que são os autores da primeira antologia de poesia de amor de Saúl Dias e de desenhos de Julio com a mesma temática, Tarde Azul, que dá o título a esta mostra e que está na sua origem. A antologia será apresentada durante a mostra. De referir, também, que Maria João Fernandes é autora da primeira monografia editada em 1984 pela Imprensa Nacional/Casa da Moeda sobre o artista, Julio Saúl Dias, o Universo da Invenção, reeditada em 2004 com um novo título, Julio Saúl Dias, Um Destino Solar.
Maria João Fernandes afirma que “Julio oferece-nos a vibração uníssona com os arquétipos de uma simplicidade mágica que floresce apenas ao sol e à luz do amor. Diálogo da palavra e do arabesco, expressão alquímica de mágica síntese, a sua obra apresenta-se uma vez mais, como a resposta do sonho, alternativa aos erros da civilização, para ser vivida e amada, como só os grandes criadores, e raros o foram ou o são, nos oferecem. Primavera da alma, florescendo ainda, sempre, sem perder nada do seu perfume e da sua intocada luz”.
Por seu lado, Gonçalo Salvado realça que a mostra “pretende tornar mais visíveis, depurando-as, as linhas de força da sua essencialidade, um amor nunca totalmente carnal, mas orientado para a transcendência, marca fundamental do lirismo português com raízes profundamente platónicas e bíblicas. No imaginário de Julio/Saúl Dias a mulher surge na sua pura e sã carnalidade e ao mesmo tempo transfigurando-se em aparição e epifania, dom supremo da própria vida, sinal de radiosa presença, sempre inalcançável. Demanda perene de um paraíso que nunca se perdeu porque só no sonho verdadeiramente se revelou”.
No que respeita à exposição é adiantado que “de desenho para desenho e no conjunto das suas pinturas representadas pode verificar-se como na obra de Julio a figura feminina tem um papel central, sobretudo no contexto do envolvimento amoroso de que é protagonista, juntamente com o jovem poeta que vai envelhecendo ao correr das décadas, sem que ela perca a sua juventude e a sua beleza. Por milagre da evocação e da poesia que eterniza o amor que ela soube despertar com a atmosfera que a este se liga, a de uma eterna primavera. Justamente a atmosfera da Tarde Azul, que a presente exposição evoca. A mostra tem como novidade alguns aspetos originais e inéditos, como o diálogo da arte contemporânea com as artes tradicionais, representadas por uma Tapeçaria de Portalegre realizada sobre uma aguarela da série Poeta de Julio, pela primeira vez exposta, e por uma Colcha de Castelo Branco, presente em fundo, na reconstituição do atelier do artista, onde se encontrava, e estabelecendo o vínculo da sua estética com a cidade que acolhe a exposição”.
De destacar, ainda que no contexto de uma mostra bibliográfica da coleção particular de Gonçalo Salvado, serão expostas as primeiras e raras edições da poesia de Saul Dias, com destaque para aquela que o artista dedicou a seus pais. De destacar, igualmente, a ênfase para o tema do nu feminino com grande tradição na arte ocidental e recorrente na obra de Julio, pela primeira vez reunido numa perspetiva cronológica. Por outro lado, será pela primeira vez exposto, o desenho de Julio que ilustrou a capa da Obra Poética de Saúl Dias, distinguida ex-aequo com António Ramos Rosa, em 1980, com o Prémio da Crítica Literária.