João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
FOI NA PASSADA SEXTA-FEIRA, 5 de janeiro que se entregaram os prémios Gazeta do Jornalismo, em várias das suas vertentes, promovidos pelo Clube de Jornalistas, na sua 38.ª edição. Um prémio, na categoria de Imprensa Regional, de que o nosso jornal se orgulha de já ter recebido em 1994, uma época em que se vivia um certo otimismo e entusiasmo no mundo da Imprensa, que se manifestava nos novos projetos que nasciam com regularidade. Otimismo que desde há alguns anos, e agravado em 2023, se transformou em pessimismo. Uma crise na Comunicação Social que já resultou em centenas de jornais e rádios fechados, em várias centenas de jornalistas e outros profissionais que tiveram, de trilhar outros caminhos.
Foi uma cerimónia em ambiente lúgubre presidida pelo Presidente da República, onde os premiados, sem exceção, moderaram a natural satisfação pelo prémio recebido, com palavras de solidariedade para com os profissionais do JN, DN, O Jogo, TSF, entre outros títulos da Global Média Group, jornais históricos e uma rádio que durante tantos anos foi referência na informação e que, já com salários em atraso e cortes nos investimentos, estão agora em elevado risco de fechar, também por gestão danosa dos novos donos do grupo. A acontecer, é também a democracia que corre riscos. Porque uma sociedade mal informada mais facilmente fica sujeita à manipulação através de notícias falsas, disseminadas pelas redes sociais onde a veracidade da informação não é escrutinada. Portugal pode ficar apenas com dois ou três jornais diários generalistas e isso, todos deverão reconhecer, não é bom para a saúde da democracia e do pluralismo. Como alertou um dos premiados, há jornalistas sem ter o que comer. O jornalismo falido é um passo para o abismo, pela perda de independência que pode trazer consigo.
A crise que atravessa a Comunicação Social, e a recente decisão de saída da diretora da revista Visão, com palavras que não sugerem coisa boa por aquelas bandas, tem de ser enfrentada com determinação e sem perda de tempo por quem tem poderes para tomar medidas que apoiem a sobrevivência e a independência daquele que já foi considerado e tem de continuar a ser, o quarto poder. Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura já mostrou estar atento, e o Presidente da República, na entrega dos Prémios Gazeta, pediu medidas urgentes para salvar os meios de Comunicação Social e também um “debate político, mas também parlamentar”. O objetivo é “chegar a entendimentos de regime sobre esta matéria”. Há quem considere como legítima a hipótese de nacionalização (temporária) ou intervenção do Estado, como já aconteceu com a banca.
Nicolau Santos, jornalista de prestígio reconhecido e atualmente diretor da rádio e da televisão públicas, num interessante texto publicado no jornal Público, pôs a questão de saber se a informação produzida pelos media deve ser considerada um bem de primeira necessidade para a saúde da democracia. Entre várias medidas aponta a compra de publicidade institucional por parte do Estado, como sendo uma obrigação permanente, forma de defender a liberdade de informação ameaçada pela fragilidade financeira das empresas, devido à mudança de hábitos de leitores e à diminuição da publicidade. Uma medida que foi implementada durante o período da pandemia mas que não beneficiou todos os órgãos de informação. Dessa ajuda através de compra de publicidade, na Gazeta do Interior não entrou nem um cêntimo. Com transparência e critérios bem definidos, sem filhos e enteados, seria uma medida que toda a Comunicação Social agradeceria.