Edição nº 1838 - 3 de abril de 2024

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

ESTA SEMANA, num conhecido programa semanal de comentário político, um dos comentadores do painel ironizava que, depois das eleições, o problema das urgências estava solucionado. É um facto que o tema, ou o problema, deixou de fazer abertura de telejornais, porque outros assuntos mais importantes estavam a acontecer, ou por outra razão qualquer. De uma forma ou outra, a verdade é que muitas vezes vive-se entre a realidade e a sua perceção. São bons exemplos desta perceção da realidade, a ideia de colapso do SNS ou da balbúrdia no ensino público. Ou a perceção de insegurança, o que perturba e assusta número importante dos cidadãos. Ou finalmente, e para não ser exaustivo, a perceção de que vivemos num país de corruptos.
Como se cria este perceção? Pela informação que passa nas televisões e pela forma como se faz o alinhamento das notícias; pela partilha massiva de notícias nas redes sociais, sabendo que elas são agora a principal fonte de informação e que funcionam em sistema de bolha mediática com conteúdos informativos que vão ao encontro das convicções dos seus seguidores. Também se constrói a perceção a partir das narrativas dos políticos, narrativas algumas vezes distorcidas do real vivido, como acontece com a questão da insegurança ou da corrupção.
Claro que nem tudo vai bem no SNS, mas que continua mesmo no estrangeiro como referência de qualidade e de democraticidade no acesso tendencialmente gratuito aos serviços de saúde; como há problemas na escola pública, por descuido na formação de uma nova geração de professores para substituir os que se sabia se iriam reformar por estes tempos; que é verdade que os crimes acontecem mesmo no país considerado como um dos mais seguros do Mundo; que há corruptos em Portugal como no resto do mundo.
Quanto aos discursos de líderes políticos populistas, pouco há a fazer. Denunciar o populismo, as inverdades e esperar que nas urnas os cidadãos deem a resposta adequada e única possível em democracia. Quanto às televisões, o cidadão comum não tem outra ferramenta que não seja a de mudar de canal. Karl Popper e John Condry publicaram um livro que intitularam de Televisão: Um Perigo para a Democracia, um vibrante grito de alerta de um dos mais importantes intérpretes do pensamento liberal. Apontam os danos infligidos à sociedade por uma expansão incontrolada do poder da televisão com distorção do debate público, da inflação desmesurada dos mitos e da vedetização. Alimenta-se da corrupção do discurso público que conduz a uma cada vez maior dificuldade de captar a diferença entre realidade e ficção. O exemplo mais radical é o que se viveu, ou ainda vive, numa América profundamente dividida, com a Fox News a ser, sem qualquer rebuço, a guarda avançada das ideias profundamente divisionistas e populistas de Trump, não se coibindo de recorrer às fake news, se tal for necessário para atingir os objetivos trumpistas.
Entre nós podemos apontar alguns exemplos, que revelam uma evidente falta de ética, a ética que Popper defende, deveria ser assumida e assinada em documento, por todos os intervenientes na conceção, produção e divulgação dos produtos televisivos, que Popper considera como uma das poucas medidas que numa sociedade democrática e liberal poderia ser aceite. Não foi ética a exibição, durante a ultima campanha eleitoral, de programas de análise política pretensamente independente, sem contraditório, conduzidos por jornalistas cuja missão não é o de questionar, mas o de dar as deixas para as falas de comentadores pertencentes às cúpulas partidárias, ou mesmo proto-candidato a presidente da República por uma das forças políticas em confronto. Não houve ética por parte dos comentadores, como não houve da parte das estações de televisão nem dos jornalistas pivot que aceitaram este papel.

03/04/2024
 

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