Edição nº 1830 - 7 de fevereiro de 2024

Valter Lemos
GERAÇÃO Z: HOMENS COM MEDO E MULHERES PROGRESSISTAS

A diferença sociopolítica entre homens e mulheres parece ter atingido o máximo da sua expressão na chamada Geração Z com jovens entre os 18 e os 29 anos. Segundo a maioria dos estudos, os homens estão cada vez mais conservadores e as mulheres cada vez mais progressistas e liberais.
Nas eleições mais recentes em diversos países, bem como nas sondagens em geral, eles votam mais à direita e cada vez mais na extrema-direita e elas votam cada vez mais à esquerda. Em Portugal uma sondagem recente mostrou que o Chega e a Iniciativa Liberal são os partidos que captam mais o voto dos jovens entre os 18 e os 34 anos e é particularmente significativo que, no caso do Chega, sejam maioritariamente homens.
Estudos realizados no Reino Unido e na Alemanha mostram também que há uma diferença entre 25 e 30% entre homens e mulheres jovens, no posicionamento político, com os homens à direita e as mulheres à esquerda. Também nas recentes eleições na Polónia quase metade dos jovens masculinos votou na direita radical, sucedendo o contrário nas jovens mulheres o que provocou a derrota do partido radical de direita que estava no poder e a formação de um novo governo de uma aliança progressista de três partidos do centro e centro-esquerda. Também nos Estados Unidos os dados mostram que os homens apoiam mais Trump e as mulheres apoiam mais Biden, ainda que a distribuição etária não seja tão marcada como na Europa.
A razão desta divergência é objeto de estudo em diversos institutos e universidades de diferentes países, mas parece mostrar-se ligada à significativa alteração dos direitos e dos papéis reais das mulheres nas sociedades europeizadas e pelas ameaças que isso tem trazido para os papéis dos homens. Em suma, os homens mais jovens sentem-se ameaçados pelas mulheres, que já são, em geral, mais qualificadas e ocupam, cada vez mais, lugares sempre ocupados por homens, nas gerações anteriores. Assim sentem-se atraídos por partidos e movimentos que tenham um cariz social e politicamente mais conservador e por propostas que mantenham ou reponham as diferenças de papéis entre mulheres e homens, numa situação mais favorável a estes com acontecia no passado.
Por outro lado, as mulheres mostram precisamente uma visão contrária, assente numa maior confiança nas alterações dos seus papéis sociais. Essa confiança é reforçada pela subida das suas qualificações e pelas mudanças sociais que têm vindo a ocorrer.
Não é possível ignorar o papel catalisador que o movimento #MeToo teve no crescimento de valores fortemente feministas entre as mulheres, designadamente mais jovens, que se sentiram legitimadas e capacitadas para falar contra a injustiça de género e a histórica desigualdade entre mulheres e homens.
Nos mais jovens tem vindo a afirmar-se esta diferença de atitude entre mulheres e homens aumentando aquilo que os investigadores chamam o “gender gap” e consolidando uma divisão social baseada no género, com homens e mulheres jovens a viver em espaços separados e culturas distintas, o que pode ter consequências profundas na estrutura social. Como, aliás, já está a acontecer em alguns países como, por exemplo a Coreia do Sul. Neste país onde a desigualdade de género é historicamente acentuada, o progressivo afastamento sociocultural entre homens e mulheres tem como resultado uma enorme queda das taxas de casamento e de natalidade que é atualmente a mais baixa do mundo com 0,78 filhos por mulher em idade fértil.
Não deixa de ser curioso que sejam os homens jovens a mostrar-se mais reacionários à evolução e à mudança, quando esta atitude estava mais associada às mulheres e aos mais velhos. Os homens mais jovens parecem, afinal, querer manter-se associados à priori a um papel e estatuto social vantajoso, por medo da eventual incapacidade de competir com as mulheres para o efeito.
Foi sempre o medo e não o valor das propostas ou as capacidades dos atores que levou a extrema-direita ao poder. É, pois, novamente, o medo que impulsiona o crescimento desses partidos e movimentos. É pena que seja dos homens jovens. Não augura um futuro muito promissor.

07/02/2024
 

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