Edição nº 1884 - 26 de fevereiro de 2025

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

NA TERÇA-FEIRA DA PASSADA SEMANA, o Cine-Teatro Avenida esgotou para ver o filme do brasileiro Walter Salles, com Fernanda Torres como protagonista e um dos maiores sucessos de sempre do cinema brasileiro. É reconfortante ver casa cheia, a provar de que o cinema fora de casa e das plataformas de streaming ainda está vivo. O Cine-Teatro encheu em duas sessões (e foi bom ver tantos jovens) porque passava o filme Ainda Estou Aqui, amplamente publicitado e até a merecer editoriais de vários jornais de referência.. É o retrato de um período negro da história do Brasil, o período da ditadura militar que durou de 1964 a 1985 e que ficou marcado pela censura, falta de liberdade, pelo uso de tortura contra os opositores políticos e pela prática de terrorismo de Estado. Os 21 anos da ditadura saldaram-se em perto de 500 mortos e desaparecidos e a morte de milhares de indígenas.
Diga-se que a tortura, a que cerca de 20 mil brasileiros terão sido sujeitos, não era só física, mas também psicológica, com os presos deixados dias na solitária, com ameaças à sua família e os filhos a serem utilizados como fonte de informação, práticas que são retratadas no filme.
E é neste cenário que o filme conta a história de Rubens Paiva, engenheiro e antigo deputado do Partido Trabalhista, homem de causas, de esquerda moderada, mas apontado pelo regime como perigoso comunista.
Uma família feliz, um casal que se ama, casa cheia com os cinco filhos e amigos, festas, filmes Super 8, os soufflés de queijo da família, a luz do Rio de Janeiro e a praia de Ipanema. Enfim, a vida cheia de luz e alegria de uma família da classe média… até ao momento em que a polícia militar leva Rubens Paiva para interrogatório e nunca mais ser visto. Ele será mais um dos muitos brasileiros desaparecidos durante a ditadura. Uma família feliz interrompida mas Eunice Paiva, excelente interpretação de Fernanda Torres com boas probabilidades de ser galardoada com o Óscar, vai manter-se de cabeça erguida, quer acima de tudo proteger os filhos e mostrar-se forte e resiliente como forma de enfrentar o regime. Numa das cenas marcantes, quando num trabalho fotográfico para uma revista, lhe pedem que no retrato de família se mostrem tristes, ela diz aos filhos que sorriam.
Quando um pouco por todo o lado os partidos da extrema direita através de campanhas populistas alimentam o saudosismo pelos regimes autoritários, este é um filme oportuno. Fernanda Torres e Walter Salles têm alertado para os perigos do Alzheimer político e da importância de preservar a memória. O alerta é tanto mais importante, quanto um estudo recente, realizado na Inglaterra e nos EUA e publicado na NewsWeek, mostra que na geração Z, os nascidos a partir de 1995, marcada por indivíduos hiperconectados e individualistas, cerca de 50 por cento defende que o Mundo seria um sítio melhor com um líder forte no comando, que não tivesse de se preocupar com o Parlamento, eleições ou com cumprimento de leis (Trump perceciona este devir, quando clama que quem está a cuidar do seu país, deveria estar acima da lei). Um historiador britânico aponta para um geração muito ligada às tecnologias, mas pouco informada e interessada nos problemas do mundo, limitada aos vídeos de 30 segundos do Tik Tok. Aquilo que ele denomina de teoria da História do idiota mimado, por razões que não cabem agora aqui. Evidentemente que um filme não faz a primavera, mas a educação e a cultura têm uma palavra importante na matéria.

26/02/2025
 

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