João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
O QUE IMPRESSIONA NO PRIMEIRO-MINISTRO DE ISRAEL, Benjamin Netanyahu e no seu governo recheado de religiosos radicais, é a completa falta de empatia e de compaixão. Todos os dias se manifesta, através de ações e comentários que são uma afronta ao direito internacional. Confrontado com a morte de inocentes, principalmente crianças que constituem perto de cinquenta por cento da população de Gaza, a resposta com um imaginado encolher de ombros é a de que se trata tão só de danos próprios de uma guerra. Não é. É o resultado da ferocidade desmesurada de uma clique e do seu exército, regular, contra uma organização terrorista organizada em forma de guerrilha. Uma guerra que dificilmente será ganha pela força, porque por cada membro do Hamas que morra, não tenham dúvida de que se vão erguer o dobro de jovens a quererem matar e morrer pela causa.
A propaganda do governo israelita diz que a relação é de um para dois: por cada terrorista do Hamas morto por Israel, tem havido duas mortes civis. Se fosse assim, já era inaceitável, mas a verdade é que todos os dias esta propaganda é desmentida com os ataques indiscriminados a civis. Não há dúvida de que morrem muito mais civis por cada terrorista do Hamas morto. E têm-se sucedido os episódios dramáticos que ilustram esta constatação. Já aqui falámos há algumas semanas do caso da família atacada e assassinada durante a retirada exigida por Israel, com o dramatismo da criança, única sobrevivente do primeiro ataque, presa na viatura à espera de ajuda e que terminou em novo ataque com a morte dela junto com o pessoal médico do Crescente Vermelho. Agora foi o caso dos sete voluntários da ONG World Central Kitchen, criada pelo famoso chef José Andrés após uma viagem ao Haiti para prestar ajuda de emergência. Os sete voluntários, de várias nacionalidades foram assassinados pelo exército israelita, que estavam informados da operação e do trajeto, quando se dirigiam para um local de distribuição de alimentos à população deslocada em Gaza. Esta foi a gota de água que fez transbordar o copo das críticas de todo o Mundo a exigirem-se explicações e o cessar fogo imediato.
As organizações humanitárias que têm estado presentes no teatro de guerra, dizem que cada vez mais estão sem condições de realizar os trabalhos de assistência e ajuda, que nunca noutras guerras como esta se têm visto situações de não cumprimento das normas da guerra, ou Direito Internacional Humanitário, que estipulam o que pode e o que não pode ser feito durante um conflito armado. As Convenções de Genebra e os seus Protocolos Adicionais bem como a Convenção sobre os Direitos da Criança, são a essência desse conjunto de normas. Elas estabelecem limites para a guerra, oferecendo proteção aos civis e parâmetros do que se considera aceitável ou não no campo de batalha e fora dele. Os casos sucedem-se uns aos outros e faz crescer os sentimentos antissemitas, com Israel cada vez mais isolado, a deixar embaraçados mesmo os seus mais indefetíveis aliados, como os Estados Unidos da América.