Edição nº 1861 - 18 de setembro de 2024

Lopes Marcelo
TURISMO CULTURAL II

Nesta nossa janela do mês passado assumi o compromisso de partilhar com os leitores o testemunho da vivência do que designei de turismo cultural, que contém uma perspectiva mais exigente e valorizadora do que o turismo de massas.
De facto, é possível viajar demorando o olhar em lentidão criativa, criando memória cultural de que de algum modo nos assumimos cuidadores. Escutar e confrontar, questionar e reflectir sobre o enquadramento histórico e cultural das novas terras e ambientes. Abrirmo-nos ao espírito dos novos lugares e pessoas em interpelação e reflexão, cultural e espiritual.
A primeira referência é Ávila, cidade no centro leste de Espanha rica de história medieval, toda rodeada de fortes muralhas de granito. A sua figura mais notável é Santa Teresa de Jesus, mais correntemente designada por Santa Teresa de Ávila, a sua vida e obra motivou a nossa paragem.
De nome próprio Teresa Sanchéz de Cepeda y Ahumada, descendente de uma família de judeus pois seu avô paterno, Juan Sánchez, foi judeu convertido perseguido pala Inquisição. Seu pai, Alonso Sánchez de Cepeda já cristão novo aceite, adquiriu o titulo de Cavaleiro e instalou-se em Ávila com a esposa, Dª Beatriz de Ahumada e Cuevas. Tiveram doze filhos, nove rapazes e três raparigas, eles educados para servirem nos combates e elas para a recatada vida caseira e destinadas ao casamento das conveniências do poder familiar. Teresa perde a mãe aos quatorze anos e desenvolveu maior contacto com o seu irmão mais próximo, Rodrigo. De carácter alegre, amante de música e de poesia, muito cedo se dedicou à leitura e à escrita, com vontade própria, mostrou rebeldia não aceitando o destino familiar que lhe estava destinado. Tendo nascido em 1514, no ambiente medieval do século XVI apenas lhe restava recolher-se no Convento. Assim, aos vinte anos, ingressa no Convento da Encarnação da Ordem das Carmelitas. O ambiente conventual de rotinas e tarefas fúteis não a satisfaz, intensifica as suas leituras e profundas reflexões que lhe revelam visões e vivências místicas. Tendo a maioria das freiras origem na elite da nobreza cujas famílias faziam grandes donativos ao Convento, ali viviam com regras e tarefas fúteis, beneficiando de mordomias e bem-estar. Teresa não concorda e inicia uma intensa catequese interna visando uma vida de pobreza e de grande intensidade espiritual. Nos contactos exteriores ao mosteiro, junto da Corte e das mais altas instâncias da Igreja, a sua voz torna-se incómoda e incompreendida. Ainda por cima, a reflexão crítica vinha de uma mulher, caso novo e único na Igreja até então. Procura ajuda junto dos seus Confessores e por vezes, mesmo sem a ajuda do Bispo, mas com o apoio da Corte Espanhola a sua voz chega à Igreja de Roma e faz vingar as suas propostas.
Defendendo que os Conventos deviam ter por base pequenas comunidades, à volta de uma dúzia de freiras, com votos de oração e pobreza; convence um pequeno grupo do Convento da Encarnação e fundou o Convento de S. José, o primeiro de cerca de duas dezenas que fundou ao longo da sua vida. Aplicou uma verdadeira reforma da Ordem das Carmelitas que se passaram a designar por Carmelitas descalças, já que apenas calçavam modesta sandálias.
O encontro em Medina del Campo, com o jovem padre João da Cruz que aceita e admira as suas ideias, reforçou o movimento de reforma dos Conventos. Este dedicado sacerdote, um pregador e poeta de grandes méritos, apoia totalmente Teresa e funda Conventos masculinos de Carmelitas descalços. Já nosso século, o Papa João Paulo II ao visitar Ávila, consagra Santa Teresa como Doutora da Igreja e enalteceu S. João da Cruz, revelando que a sua tese de doutoramento em estudos canónicos foi sobre a poesia do Frade fundador dos Carmelitas descalços.
Teresa, já muito cansada e doente, com 67 anos; ao regressar da Corte na companhia da Duquesa de Tormes, sua dedicada apoiante, acabou por morrer em Alba de Thormes, em 1581.
A sua catequese pessoal em dedicado testemunho e exemplo de vida também se traduziu em vários livros em linguagem directa e simples, de que destaco: Caminho de Perfeição; Vida; livro das Moradas ou Castelo Interior.

18/09/2024
 

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