Edição nº 1898 - 4 de junho de 2025

Valter Lemos
A COMUNICAÇÃO SOCIAL AO SERVIÇO…

Nos últimos dias da campanha eleitoral das recentes eleições o país assistiu em direto aos supostamente graves episódios esofágicos de André Ventura. As três estações de televisão acompanharam em pormenor os ataques de azia de Ventura e tal acompanhamento incluiu horas de transmissão, parte das quais a filmar a traseira da ambulância que o transportava.
Hoje rimo-nos de tal, mas, na verdade, o que se passou revela a enorme indigência profissional em que se encontra boa parte da comunicação social, o que deve preocupar os portugueses já que não parece preocupar as grandes luminárias que dirigem a informação nessas estações, que vão repetindo, periodicamente, situações dessas.
Ventura, conhecedor do meio e politicamente hábil, aproveitou ao limite toda a incompetente histeria comunicacional que lhe proporcionaram. Como, aliás tem feito, com êxito, ao longo dos últimos anos. Os estudos divulgados sobre o tempo de cobertura dos líderes e dos partidos políticos, mostraram que, quer em 2024, quer em 2025, foi André Ventura quem teve maior tempo de cobertura noticiosa e intervenção nas televisões. Também em diversos países europeus como em França, Itália e Alemanha se têm revelado situações semelhantes. As longas horas de comentário político nas televisões noticiosas, com agenda coincidente com a agenda política populista, é dos melhores contributos para a legitimação político-social da mesma e para a normalização das propostas e protagonistas políticos associados.
Mas a atração da comunicação social, especialmente as televisões, pelo populismo, não se revela somente na agenda política. Toda a agenda noticiosa é definida dessa forma. Mais de 95% das notícias referem-se a casos e situações negativas. Quanto mais negativa for a notícia maior é a enfâse colocada. Todos se lembram do início de telejornal de José Rodrigues dos Santos, com a frase que se tornou icónica do noticiário televisivo; “Morreram todos!”. A morte é, todos os dias, a notícia principal.
Como se criou em Portugal, um dos países mais seguros do mundo, uma sensação de insegurança? Não foram as declarações de Ventura e amigos sobre o assunto. Foi a difusão e repetição diária de casos individuais e uma agenda noticiosa massiva sobre a criminalidade, transformando vítimas e criminosos em figuras mediáticas. Depois é fácil o populismo político fazer crer às pessoas que essa é a sociedade em que vivem. A esmagadora maioria nunca sofreu qualquer crime nem sequer nunca presenciou, mas acredita que o que passa é o que passa constantemente nesses canais noticiosos. E é isso que cria um clima propício às mensagens populistas e securitárias.
Há alguns dias encontrei, a tomar café, uns amigos que já não via há algum tempo. Entabulamos conversa e diz-me um: isto está perigoso. E eu perguntei: o quê? A segurança, respondeu-me. Surpreendido, questionei: aconteceu-te alguma coisa? A mim não…, disse ele. Acrescentei: a alguém da família, a algum vizinho, a alguém conhecido? Que eu saiba não, diz-me ele. E eu: então porque dizes Isso? Já viste as notícias, pá? Diz-me ele. É só assaltos e roubos e só se vê gente esquisita na rua…
É assim que se cria a insegurança. E o medo.
E é assim que os populismos medram.
Durante algum tempo acreditou-se que as redes sociais, funcionando como fonte principal de desinformação, fossem as responsáveis por tudo isto. E serão em grande parte. Mas, já não é possível desculpar mais a comunicação social. A ganância das audiências associada à crescente incompetência do jornalismo praticado, colocam a comunicação social e designadamente as televisões no centro do problema.
Não se percebe bem esta atração dos jornalistas pelo abismo. Quase sempre os partidos populistas e extremistas quando chegam ao poder, uma das primeiras ações que desenvolvem é condicionar a comunicação social.

04/06/2025
 

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