Patrícia Bernardo
“TEMPO DE RESPIRAR: FÉRIAS E O EQUILÍBRIO EMOCIONAL”
Num mundo cada vez mais acelerado, onde as exigências profissionais e pessoais se sobrepõem ao tempo individual, as férias surgem como um verdadeiro “tempo de respirar”. Mais do que um simples intervalo laboral, as pausas devem ser programadas e conscientes e revelam-se essenciais para o equilíbrio emocional e para a preservação da saúde mental.
Muitos profissionais vivem em constante estado de alerta: prazos, produtividade, chamadas telefónicas, responsabilidades familiares e uma lista interminável de tarefas. Neste contexto, o descanso deixa de ser uma opção e torna-se uma necessidade.
A Organização Mundial da Saúde já alertou para o impacto do stress crónico (distress) no desenvolvimento de problemas como ansiedade, depressão, insónias, irritabilidade e até doenças físicas. As férias, quando bem aproveitadas, funcionam como um amortecedor contra este desgaste.
Mas descansar não é apenas estar inativo. É sobretudo permitir-se desligar dos automatismos, reorganizar rotinas, cultivar o lazer e, principalmente, reconectar-se consigo próprio. Existem estudos que demonstram que as férias reduzem significativamente os níveis de cortisol — a chamada hormona do stress —, melhoram o humor, aumentam a criatividade e favorecem a tomada de decisões. “Ou seja, ao pararmos, não perdemos tempo: ganhamos clareza e restabelecemos o nosso equilíbrio interno”.
Contudo, é comum verificarmos que nem todos usufruem das férias de forma saudável. Há quem leve o trabalho na mala, quem se sinta culpado por “não estar a fazer nada”, ou quem preencha os dias de descanso com agendas tão intensas quanto as do quotidiano.
O descanso verdadeiro implica, antes de mais, uma escolha consciente: respeitar os próprios limites, permitir o ócio sem culpa e praticar a presença no aqui e agora. Seja a caminhar na natureza, na praia, a ler um livro, a dormir mais ou apenas a conversar sem pressa — são essas pequenas ações que permitem à mente respirar.
Para além disso, as férias representam uma oportunidade de reforço das relações interpessoais. A partilha de tempo de qualidade com amigos, familiares ou parceiros promove sentimentos de pertença e afeto, que são pilares fundamentais para uma boa saúde mental. Também o simples ato de planear as férias pode trazer benefícios psicológicos, ao alimentar a expectativa positiva e quebrar a monotonia da rotina.
Importa ainda sublinhar que o direito ao descanso é também uma questão de justiça social. Nem todos têm a possibilidade de usufruir de férias dignas, seja por precariedade laboral, sobrecarga financeira ou responsabilidades familiares inadiáveis. Valorizar o descanso deve, por isso, ser um compromisso coletivo, que promova condições para que todas as pessoas possam usufruir de pausas verdadeiramente reparadoras.
É claro que as férias não resolvem todos os problemas, nem curam por si só os estados de desequilíbrio emocional mais profundos. No entanto, são uma peça fundamental na construção de estilos de vida mais equilibrados. São um convite para nos cuidarmos com a mesma dedicação com que cuidamos dos outros ou do trabalho. E, num tempo em que tantas pessoas vivem em modo automático, parar, “verdadeiramente parar” é um ato de saúde e, por vezes, até de resistência.
Boas Férias e que este seja, então, o tempo de respirar. De escutar o corpo, de respeitar os ritmos e relembrar que o descanso não é sinal de fraqueza, mas sim de sabedoria!
Porque cuidar da mente é, também, saber parar a tempo!!!
(Psicóloga Clínica e da Saúde)