João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
NA VORACIDADE COM QUE AS NOTÍCIAS se vão substituindo umas às outras no universo mediático, falar hoje de burcas, como de outros véus islâmicos usados por mulheres, como o niqab (que cobre o corpo, mas deixa os olhos à mostra) e o hijab (que cobre o cabelo e o pescoço) parece ser já uma notícia requentada. Mas foi apenas há 15 dias, em 17 de outubro, que na Assembleia da República foi aprovada com votos do Chega, PSD, IL e CDS-PP a legislação que proíbe o uso de burca e outros véus que ocultam o rosto em espaços públicos em Portugal. Passamos ao lado da discussão legítima sobre o que a utilização da burca representa para a condição da mulher. Consideramos o uso da burca como prática de uma cultura que menoriza a mulher. Mas o essencial é que este é o exemplo acabado da inutilidade de uma lei, apresentada para propaganda de um partido que semeia ódio para com o outro, o imigrante. Independentemente da nossa opinião sobre a burca, a legislação é inútil, porque o seu uso em Portugal é tão raro que poucos, muito poucos a viram ser usada no espaço público. Para prevenir casos futuros, dirão os defensores da legislação. Com algum humor, escrevia por estes dias um conhecido jornalista, que nesta lógica, há de ser aprovada legislação que proíbe um elefante de circular na via pública. Porque mais vale prevenir…
Mas esta questão dos véus islâmicos foi apenas o prefácio para a obra legislativa agora aprovada pela direita parlamentar, resultado da aproximação da AD ao mantra do Chega nas novas leis da imigração e da nacionalidade. E enquanto as noites nos canais de notícias se vão preenchendo com estas questões, como se o problema dos pedidos de nacionalidade ou do uso dos véus fossem uma prioridade para os portugueses, vão ficando por debater ou resolver problemas bem mais importantes como a habitação, lembro um relatório divulgado pelo Conselho Europeu que conclui que Lisboa é a cidade da União Europeia onde os habitantes destinam uma maior percentagem do salário médio para pagar a habitação, ou como o problema da saúde que nunca sai dos headlines dos meios de comunicação. Porque todos os dias há de acontecer alguma coisa, sempre mais grave do que a anterior. E vejam lá que, segundo algumas personagens desumanizadas que por aí andam a opinar, até na saúde a causa de todos os males são os imigrantes.
SÓ MEIA DÚZIA DE PALAVRAS para referir que, apesar de tudo, há que ser otimista. A sociedade civil está viva como se vê nas movimentações de protesto contra a mega central fotovoltaica Sophia (uma das maiores do país), que uma multinacional projeta instalar no nosso Distrito. Implica o abate de 1500 árvores de espécies protegidas, vai destruir a paisagem e produzir graves danos no ecossistema. A sociedade civil que se manifesta, exige dos seus autarcas agora empossados, capacidade de decidir ou de influenciar decisões no sentido do bem dos cidadãos e do seu território.