Valter Lemos
AUTÁRQUICAS: O PAÍS E CASTELO BRANCO
Como se esperava a coligação dos partidos da AD ganhou as eleições autárquicas no país, ainda que o PS se tenha mantido como o maior partido em número de eleitos. Na verdade, o número de eleitos pelo PS é superior ao número de eleitos pelo PPD/PSD, dado que os resultados da coligação incluem, para além dos elementos deste partido, os eleitos pelos outros partidos da coligação em que o PSD se apresentou com o CDS/PP em muitos concelhos e ainda com diversos outros partidos como a IL e o PAN, o MPT e PPM entre outros e ainda com grupos de cidadãos, como foi o caso de Castelo Branco. Mas, de qualquer modo os resultados permitem ao PSD, sozinho ou em coligação, ter um maior número de presidentes de câmara (e também de presidentes de juntas de freguesia) e assim eleger o presidente da Associação Nacional de Municípios.
Para além da vitória da AD e da derrota do PS (ambas não muito acentuadas) também merece análise a situação das outras forças políticas). Os quase 12% do Chega são melhores do que as anteriores autárquicas, mas são uma gigantesca desilusão para as expetativas que o partido tinha anunciado. Três presidentes de câmara é melhor que nenhum, mas significam um décimo do anunciado e são menos de 1% das presidências de câmara, sendo que o CDS/PP garantiu o dobro. Também a IL se mostrou abaixo das expetativas com um resultado que é manifestamente desapontante.
O PCP, através da CDU, continua o seu caminho de resistência no degrau seguinte. De eleição para eleição o PCP perde votos, eleitos e câmaras, mas vai tentando resistir a essa erosão. Voltou a perder mais câmaras, mas, ainda assim é o terceiro partido com mais presidências, muito acima do CDS e do Chega.
O BE e o PAN (e ainda o Livre) acentuaram a sua inexistência autárquica.
AD e PS obtiveram mais de dois terços do total de votos, o que mostra que o país, em termos autárquicos, é bem mais concentrado e estável ao centro do que em legislativas.
No distrito de Castelo Branco os resultados também não tiveram grandes surpresas. As câmaras que eram do PS (8) e do PSD (3) assim se mantiveram, com a exceção de Belmonte onde o PS e o PSD averbaram uma significativa derrota face à candidatura do Nós Cidadãos. A candidatura liderada por António Beites, militante do PS e anterior presidente de câmara de Penamacor, não só venceu como o fez por maioria absoluta, expondo uma muito desadequada gestão política por parte do PS.
No concelho de Castelo Branco o PS ganhou a Câmara Municipal novamente sem maioria absoluta, ainda que tenha obtido mais cerca de 800 votos de um total de votantes que cresceu cerca de 1800. Há, no entanto, uma alteração de forças políticas na composição do novo executivo. Anteriormente o movimento Sempre tinha três vereadores e o PSD um, face aos três do PS. A nova distribuição é de 3 PS, 3 Sempre/PSD/CDS e 1 Iniciativa Liberal. Estes resultados mostram que não tendo o PS crescido de forma muito significativa foi a coligação Sempre/PSD/CDS que terá perdido muitos votos face ao somatório dos votos anteriores dos diversos elementos da coligação, tendo obtido somente 9600 votos dos anteriores quase 12000. Tal não será alheio ao facto de a Iniciativa Liberal ter obtido uns surpreendentes mais de 4 mil votos, elegendo assim um vereador.
Na votação para a Assembleia Municipal o PS também obteve a vitória com 9 deputados municipais eleitos contra 8 da coligação, sendo que a IL e o Chega também obtiveram 3 cada um. Nas Assembleias de Freguesia, inverteu-se a relação de forças e a anterior maioria do PS é agora da coligação Sempre/PSD/CDS, ainda que o PS tenha obtido uma vitória, por pequena diferença de votos, na freguesia de Castelo Branco.
Os resultados ditaram, pois, em Castelo Branco, uma vitória do PS, ainda que sem maioria. Tal significa que não há uma alteração significativa da situação política. Há vencedores que são o PS e Leopoldo Rodrigues (e a IL também se poderá considerar um pouco vencedora) e vencidos que são a coligação Sempre/PSD/CDS e José Augusto Alves. A esta coligação de um movimento independente com origem na dissidência de elementos do PS liderados por Luís Correia e dos dois partidos políticos da AD irão naturalmente colocar-se questões de consistência política, pois parece certo que teve como efeito a deslocação de milhares de votos do PSD para a IL. E ao próprio movimento Sempre, averbando a segunda derrota eleitoral consecutiva, colocam-se questões de sobrevivência e continuidade, com ausência de substância política e manifesto esvaziamento das suas razões de origem.