Antonieta Garcia
Traquinices
Afinal, ainda não foi desta! Anunciada a partida dos mandantes, regressaram no dia seguinte. Preocupados, ansiosos, irados! Saíram convictos de que os lusos, obedientes, veneradores e obrigados, jamais contestariam, a sério, arcar com o papel de bodes expiatórios de mazelas económico-sociais dos… mercados. Os tais. Povo difícil, este! Faz de conta que tudo está bem e, quando menos se espera, ele ou alguém por ele, tira o coelho da cartola e põe tudo de pantanas…
Pode lá ser!!! Agora que a dívida crescia de forma bárbara, como os credores apreciam, que a maioria se habituara aos sacrifícios, que os desempregados estavam conformados ou emigrados…, ou seja, num momento de tranquilidade, os portugueses desvairam. Só faltava tirar mais uns euros a uma mancheia de funcionários públicos e pensionistas, para tudo ficar nos eixos, zás… vem o Tribunal Constitucional e duma penada põe muitos pontos nos iis. Os lusos aplaudem a medida, mas os “paizinhos” irritam-se, puxam as orelhas, os mercados, os tais, castigam, treme o Governo. Solenemente avisam: não pagarão a última tranche!!! Olli Rehn diz da sua “frustração”, relativamente às decisões do Tribunal. Alguém lhe terá perguntado alguma coisa?
Pois. Foram-se embora, mas não desistem de apoiar quem obedece cegamente. Então e a reconquista da tal soberania igualável à de 1 de dezembro de 1640? Lavam-se as mãos e não dizem uma de sua justiça? Certo é que o Governo e a maioria que o suporta não perdem tempo e atiram-se às canelas do Tribunal: querem a “aclaração” das decisões. Argumentam que não entenderam o texto. Quem acredita?
Pobres governantes, cujo verdete à Constituição lhes dana irremediavelmente o fígado!... Certo é que não ouvem ninguém, e presume-se que ficam assarapantados, quando lhes põem debaixo dos olhos os equívocos em que, sistematicamente caíram e caem.
Uma dor de cabeça, estes juízes do Tribunal Constitucional! Cada orçamento, cada tormento! Ora se o povo está fartinho de impostos, de taxas, de contribuições… e os funcionários públicos e pensionistas, segundo a maioria que nos governa, ganham demais, uma nova descida nos vencimentos significava um cortezito na despesa… vinha a calhar…
Salários altos, os dos funcionários públicos? Já era! Um estudo do Banco de Portugal, datado de 2009, verificou que os funcionários, em média, auferiam mais 16,9% do que os trabalhadores do setor privado. Era verdade, porque foram analisados os dados referentes ao ano de 2005. Acresce que o Estado tem pessoas mais qualificadas do que o setor privado. E comparem, por exemplo, os vencimentos dos gestores, administradores de um e do outro lado… e concluam.
Todavia, a lengalenga das altas remunerações pagas pelo Estado pegou. Dividir para reinar é pecado velho!. Só que em Portugal nunca se sabe!
Estranho povo este, pensarão! É! Repare-se: aqui até as manifestações são ordeiras e podem mesmo acabar com um abraço entre as forças da ordem e os manifestantes! Em procissão laica, fazem a catarse e voltam serenos para casa. Tudo fica na mesma, mas desopilam… Agora calaram-se, parece. Este silêncio augura o quê?
Por isso, senhores governantes: Ponham lá outra vez o relógio e acertem a saída dos mandantes mor, de vez. Não vai ser fácil, que eles adoram a boa comida, os inesquecíveis pastéis de Belém, o solzinho, o mar…a somar às ajudas de custo – expressão em vias de desaparecimento, no país – aos juros que determinam emergentes de uma dívida que não para de crescer…
Para suas excelências a soberania é um luxo e Portugal, sendo pobre, é país de maravilhas… para quem o visita. Domando os descontentes…
Saírem daqui, sem garantir o dinheirinho, pago com língua de palmo, que emprestaram solidariamente (Eh! Eh! Eh!...) para poderem equilibrar as suas finanças, depois de terem convencido quase todos que os povos do sul da Europa são uma cambada de preguiçosos? Será que andam a ensaiar novo Ultimatum?
Ah! Ça ira! Ça ira! Ça ira! Acreditam?