28 maio 2014

Fernando Raposo
Daqui até às próximas eleições

Estivera eu, ao longo destes últimos tempos, muito optimista relativamente aos resultados das eleições para o Parlamento Europeu. As expectativas eram altas. Passos e Portas castigaram-nos sem dó nem piedade, “chuparam-nos até ao tutano” e eu, que sou crente, prometera até uma vela ao santíssimo, se desta vez eles se finassem. Mas a malta preferiu ficar em casa, talvez para recuperar energias para aguentar até às legislativas. Sim, porque daqui até lá ainda há muita austeridade para suportar e muita borrasca para aguentar.
E a malta que se esteve nas tintas paras as eleições é muita, é mesmo muita malta; muito mais do que se suponha. Admito que a malta esteja muito chateada, muito mesmo, mas o que é que ganhou em ter ficado em casa?
O PSD e o CDS juntos perderam as eleições e o PS ganhou-as. Se é verdade que os primeiros registaram uma derrota histórica, não é menos verdade que o Partido Socialista ficou muito aquém do que era expectável. Não sendo uma vitória tão significativa e expressiva, como era desejável, inibe-o de reclamar eleições antecipadas. Apesar de a coligação ter sido fortemente penalizada, a distância que a separa do PS (mais curta do que se pensara, 3,75%) permite-lhe ainda “encher o peito de ar”, e alimentar expectativas quanto às legislativas.
O Partido Socialista não conseguiu capitalizar o descontentamento de muitos e muitos portugueses que optaram pela abstenção (65,34%). Apesar de a CDU ter vindo a recuperar eleitorado, de forma consistente, obtendo nestas eleições um resultado histórico (12,68%), de pouco servirá se persistir em continuar a ver o Partido Socialista como o seu principal inimigo e se não se disponibilizar a viabilizar soluções de governo, em alternativa aos governos de direita.
Com a erosão do Bloco de Esquerda, que poderia ter representado à esquerda, aquilo que o CDS tem representado à direita em termos de soluções governativas, o resultado obtido pela CDU, impõe-lhe e exige-lhe agora uma maior responsabilidade. O seu eleitorado, entre o qual estarão muitos dos que têm sido fustigados pelo actual governo, não lhe perdoará, se continuar, a CDU, a prosseguir o mesmo caminho de sempre, ou seja, o do contra. Talvez, para si, um caminho mais fácil e mais cómodo, mas também muito mais inútil para o país e fundamentalmente para aqueles que diz representar.
Se é verdade que Marinho Pinto, eleito pelo Movimento Partido da Terra (MPT), “vale” agora mais do que Portas e o CDS juntos, não é menos verdade que a sua eleição pode apenas significar a expressão de revolta, mais pela forma do que pelo conteúdo, de algum eleitorado mais céptico e descrente relativamente ao sistema. Talvez Marinho Pinto tenha sido eleito mais pela forma desbragada com que aponta o dedo aos outros, do que pelas soluções que tem para oferecer. O tempo o dirá.
Por isso o caminho que o Partido Socialista tem para percorrer até às próximas eleições, é penoso e muito exigente. Mais penoso e muito mais exigente do que tem sido até aqui. Requer persistência, firmeza e verdade. A cada medida do governo, exige-se ao PS uma contraproposta clara, consistente e fundamentada. Nunca, como agora, a diferença entre o posicionamento ideológico da actual maioria e do Partido Socialista foi tão vincada, mas este nem sempre tem sido capaz de sublinhar com clareza, junto dos portugueses, essa diferença.
Não há mais tempo nem espaço para discursos “redondos”. O discurso do PS tem de ser substantivo, alternativo, claro e entendível, consentâneo com os princípios que o norteiam.
 Reconheço, contudo, que só as propostas, as políticas, por mais realistas que sejam, não serão, só por si, suficientes para recuperar a confiança dos portugueses mais descrentes. A recuperação da confiança dependerá muito da credibilidade dos protagonistas para as implementar e daqueles que mediarão, em nome do PS e das suas políticas, a relação com os portugueses. O Partido Socialista tem muitas personalidades com currículo que baste e merecedores de confiança. Saibam pois, os responsáveis do partido, em particular o seu Secretário-Geral, escolher os mais capazes.
Caso contrário, a possibilidade de obtenção de um resultado mais expressivo nas próximas eleições tornar-se-á mais remota e perante uma direita extremada e uma esquerda ainda refém do seu passado, a governabilidade do país ficará comprometida.

28/05/2014
 

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